São Paulo, quarta-feira, 6 de setembro de 1995 |
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Gustavo Bulhões, coitado, é vítima da elite
BARBARA GANCIA
Problemas realmente perseguem o pobre rapaz. Condenado em regime de liberdade condicional por tráfico de drogas e acusado de algumas traquinagens típicas da idade, como atropelar a namorada deixando-a paralítica, atirar no irmão e, agora, de assassinar a tiros um funcionário seu, Gustavo é uma vítima do acaso. Há uma miríade de atenuantes para justificar o exótico comportamento deste jovem de alma torturada. Seja generoso e analise comigo, ó leitor de índole cristã. Em primeiro lugar, Gugu é produto da elite alagoana, notória por resolver disputas à bala. Segundo: o pobre moço cansou de presenciar cenas de violência doméstica à base de toalha molhada. Terceiro: o casal Bulhões, sempre muito ocupado com questões políticas, negligenciou a formação do garoto. Nunca teve tempo ou disposição para repreender suas peraltices. Quarto: dar tiros por aí é coisa natural para um rapazola cuja mãe tem notória paixão por armas de fogo. Quinto: Freud explica. Com uma figura materna poderosa como Denilma e um pai submisso, que apanhou quieto durante anos, Gugu só não virou bichona porque optou por dar vazão à sua sensibilidade de outra forma. Diante desse conjunto de infelizes circunstâncias, não me espantaria se Gustavo Bulhões fosse inocentado pela Justiça. Afinal, ele não é exceção. A elite tapuia educa mal, muito mal, sua prole. Para saber o que estou dizendo, basta ver a quantidade de menores que voam embriagados pelos Jardins no sábado à noite, a bordo de seus reluzentes Golfs GTI. Protegidos pela bufunfa e influência dos pais, eles raramente arcam com as consequências de seus atos. Deus proteja o futuro do Brasil, no dia em que essa criançada tomar o poder. Texto Anterior: Soldado já foi investigado Próximo Texto: Chegadas ilustres; Prosa; Oportunidade de ouro Índice |
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