São Paulo, quarta-feira, 6 de setembro de 1995
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A torcida metropolitana está entediada

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O Corinthians volta a campo esta noite todo emendado, o que pode vir a ser melhor do que o soneto. Sim, porque é evidente que a vertiginosa queda do time neste início de Brasileirão vem mais da alma do que dos pés dos jogadores. É o chamado fastio da bola, um fenômeno que aceito, mas não entendo.
Com essa garotada que joga hoje, quem sabe o Corinthians não se anima e dê a virada tão esperada pela Fiel?
Já o Palmeiras pega amanhã o Botafogo, numa disputa direta pela liderança do seu grupo, embalado pela vitória sobre o Flamengo, ainda que sem alguns titulares indispensáveis, como Rivaldo e Cléber.
É o momento certo de o campeão fixar de vez suas metas no torneio: se está ou não jogando pelo tri. Não vai ser fácil, pois o Botafogo, embora diante do Corinthians, não tenha feito uma exibição de gala, lá está Túlio, o gol em pessoa.
O que não entendo é esse clima depressivo que envolve certa parte da mídia paulista pelo fato deste clássico ser disputado em Presidente Prudente, e não, por exemplo, no Parque Antarctica.
Ora, com o evidente tédio que apossou a torcida metropolitana, somado às medidas restritivas da federação com relação às torcidas organizadas e ao estado deplorável de nossos estádios, nada melhor do que transferir mesmo para esse interiorzão, ávido de espetáculos, partidas como essa. Estádio cheio é outra coisa, gente. Para nós, da megalópole, ficam as imagens da TV. Até combina mais. Afinal, é só o que fazemos mesmo, né?
Aliás, era o que deveria fazer o São Paulo, que enfrentará amanhã também o União, no Morumbi, para meia dúzia de gatos pingados. Muito melhor se jogasse em Sorocaba, Santo André, Piracicaba, sei lá, como, por sinal, andou fazendo no início do ano, com pleno êxito.
A propósito, atribuo boa parte da falta de ânimo do tricolor exatamente à ausência de público no Morumbi.
Como reza o velho samba, casou não prestou, cai fora, vamos sair pra outra, como um jogo de bilhar.

Um primor de síntese e objetividade a última página do primeiro caderno da Folha de domingo passado, uma entrevista concedida pelo psicólogo britânico Oliver James a Otávio Dias, sobre violência juvenil no Reino Unido, complementada por um quadro, ao lado, onde se inserem as principais causas dessa praga que nos assola. É só recortar e pôr em campo.
São sete respostas sucintas e precisas que atingem o alvo, na mosca. Peço licença para reproduzir parte de uma delas: "Houve uma valorização da cultura do vencedor e do perdedor. (...) Esse é um importante estímulo à violência".
Transfira isso para o campo de jogo, onde se reproduz um simulacro do jogo da vida, e saberá por que, entre tantas outras razões, luto pela reversão do futebol-competitivo apenas em futebol-espetáculo também.
Vencer por vencer é slogan de guerra. Vencer ou perder com arte é estratégia de paz.

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