São Paulo, quarta-feira, 6 de setembro de 1995
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Walter Lima filma fábula sobre amor e fé

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

O novo filme de Walter Lima Jr., 57, é uma fábula falada em inglês, rodada em Ouro Preto (MG) e ambientada numa aldeia setecentista européia.
"O Monge e a Filha do Carrasco", inspirado no romance homônimo do norte-americano Ambrose Bierce (1842-1914), é uma co-produção entre brasileiros e norte-americanos e deve estrear em São Paulo e no Rio no final de outubro.
No filme, um monge franciscano (Murilo Benício) se apaixona por uma jovem marginalizada na aldeia (Karina Barum) por ser filha do carrasco local (Eduardo Conde). Para completar a tragédia, o filho (Paul Dillon) do senhor da aldeia (Rubens de Falco) também se sente atraído pela filha do carrasco, para ciúme de sua amante (Patricia Pilar).
Para o diretor Walter Lima Jr., que falou à Folha por telefone, do Rio, essa "ciranda amorosa" serve de base a um estudo sobre 'à idéia da compaixão, do amor no sentido amplo", e sua confusão com o amor carnal.
Com exceção do ator norte-americano Paul Dillon (que trabalhou em "Assassinos por Natureza" e "O Fugitivo"), todo o elenco é brasileiro, assim como a equipe técnica.
Segundo o produtor Joffre Rodrigues, filho do escritor Nelson Rodrigues, o filme custou US$ 1,39 milhão (o dobro de "Carlota Joaquina"), bancados pelo sócio norte-americano da produção, Jack Chartoff.
A história de como Walter Lima Jr. acabou se tornando autor dessa obra é singular.
Inicialmente o projeto dos produtores norte-americanos era filmar na Europa. Trazidos a Ouro Preto por Joffre Rodrigues, ficaram encantados com o local e mudaram de idéia.
Definidas as locações, Rodrigues escolheu também parte do elenco (Patricia Pilar, José Lewgoy). Só depois convidou Walter Lima Jr. para ser diretor.
O cineasta pegou, portanto, o bonde andando. A um mês do início das filmagens, leu o roteiro que os americanos tinham feito e achou-o muito confuso.
"Não dava nem para entender qual era a história principal", diz Lima Jr. Sua saída foi ler o romance de Bierce e reescrever o roteiro segundo sua linha básica, que era, como diz o título, a relação do monge com a filha do carrasco.
"Na literatura religiosa, sobretudo franciscana, há um tipo de história que são os 'fioretti', histórias breves de fundo moral sobre alegria, tristeza, fidelidade. Entendi 'O Monge...' como se fosse um 'fioretto' apócrifo sobre um santo inventado", define Lima Jr.
"Nesse processo de reescrita do roteiro e de montagem da equipe, fui me apropriando do projeto", diz o diretor, que teve plena autonomia durante as filmagens (em agosto e setembro de 94) e realizou a primeira montagem do filme, ainda no Brasil.

Ritmo americano
Depois disso, o filme foi para os EUA, onde a montagem foi "polida" segundo os padrões do cinema americano.
"Ficou um ritmo visivelmente americano, mais ágil", diz o cineasta, que não lamenta as alterações. "Para mim, ficou como uma lição de compreensão de ritmo. Se tivesse mais tempo de contemplação, como no cinema europeu, talvez a história perdesse o interesse para o público."
Lima Jr., em síntese, está satisfeito com a experiência. Além do acabamento de primeira qualidade que o filme recebeu nos EUA, a grande vantagem foi "não ter que despender tempo e energia correndo atrás de dinheiro para filmar, como tem ocorrido no Brasil".
O diretor recebeu um salário por seu trabalho e não terá participação na renda do filme. Agora ele parte livre, sem dívidas e sem dores de cabeça, para a realização de seu próximo longa-metragem, "A Ostra e o Vento" (leia abaixo).

"Vestido de Noiva"
O produtor Joffre Rodrigues, por sua vez, já arregaça as mangas para seu próximo projeto: levar às telas "Vestido de Noiva", uma das obras-primas que seu pai escreveu para o teatro.
O diretor ainda não está definido, mas Rodrigues deixa entrever a possibilidade de que seja ele mesmo, que já está escrevendo o roteiro. O elenco ainda não tem ninguém definido. As filmagens devem começar em janeiro.

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