São Paulo, quarta-feira, 6 de setembro de 1995
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Natureza tem papel dramático na trama

O cineasta Walter Lima Jr., que lança filme no mês que vem

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

"O Monge e a Filha do Carrasco" é um filme límpido, redondo, preciso, digno da carreira desse grande cineasta que é Walter Lima Jr., diretor de clássicos como "Menino do Engenho", "A Lira do Delírio" e "Inocência".
A partir de poucos personagens e um fiozinho de história, ele constrói um delicado estudo de sentimentos como o amor e o ciúme, de valores como a lealdade, a coragem e a fé.
Como nas tragédias, os personagens sofrem porque não entendem as forças que os movem. O monge é levado ao crime como quem vai em busca de redenção.
Como em "Inocência" e "Ele, o Boto", o olhar do cineasta se concentra nas relações entre os seres e a paisagem que ora os absorve, ora os rejeita.
Os deslocamentos de câmera obedecem a esse duplo movimento de integrar e isolar os personagens e os objetos.
Nenhum outro diretor brasileiro tem um cinema tão sensual (no sentido amplo da palavra, de excitador dos sentidos) quanto o de Walter Lima Jr.
Diz ele que demorou a perceber o tema que unifica as histórias tão diversas de seus filmes. "São filmes sobre desejos e aspirações impossíveis. A natureza fértil, como imagem de vigor, é um contraponto a essa idéia de impossibilidade, de impotência."
"O Monge e a Filha do Carrasco" é exatamente isso: um balé trágico de personagens em luta com suas fraquezas humanas diante de uma natureza exuberante e resplandecente (magnificamente fotografada aqui por Pedro Farkas).
Um grande acerto do roteiro é deixar indefinida a localização espacial da história. No romance original, a aldeia ficava entre a Suíça e a Alemanha, mas a paisagem de Ouro Preto não condiz com a daquela região.
"Se eu definisse a localização, iria suscitar perguntas sobre a credibilidade da geografia", explica o diretor.
A indefinição de local acentua a universalidade da fábula. O mesmo se pode dizer da língua utilizada, o inglês, que serve para filmes ambientados em qualquer parte, sem estranhamento do público.
Um detalhe importante é que os atores não são dublados: o inglês que se ouve é o que eles falam em cena, e soa convincente.
Em parte porque se trata de falas simples, essenciais, e em parte porque a maioria dos atores tem também uma familiaridade com o inglês.
O elenco, aliás, é talentoso, empenhado e coeso, contribuindo decisivamente para a revigorante sensação de que se está diante de um filme que honra seu tema, respeita o espectador e engrandece o cinema.

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