São Paulo, quarta-feira, 6 de setembro de 1995
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Stoltz protagoniza irrelevâncias

FERNANDO BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Stoltz protagoniza irrelevâncias
O nome do diretor Martin Scorsese aparece em letras garrafais na capa de apresentação de "Nu em Nova York". Na verdade, Scorsese não fez mais do que emprestar seu prestígio ao obscuro diretor Dan Algrant.
Trata-se de um drama envolvendo dois jovens apaixonados (Eric Stoltz e Mary-Louise Parker) que se vêem divididos entre a vontade de se casar e suas carreiras profissionais.
O filme seria apenas irrelevante e convencional se não fosse também, e sobretudo, malrealizado.
A aspiração realista de retratar os dilemas do jovem casal urbano em busca de afirmação profissional e realização afetiva é entrecortada por passagens abertamente surreais, onde, por exemplo, Stoltz, conversa com um par de estátuas que lhe dá conselhos. O resultado é constrangedor.
Para as fãs de Stoltz, é melhor ficar com "Vem Dormir Comigo", outra fita com o ator que acaba de chegar às locadoras. Dirigido por Rory Kelly, está longe de ser um bom filme, mas parece mais honesto.
Também aqui trata-se de um jovem casal (seu par desta vez é a atriz Meg Tilly) que se vê ameaçado em suas pretensões de felicidade matrimonial.
A ameaça, no caso, parte do melhor amigo de Stoltz, interpretado por Craig Sheffer, que se declara apaixonado pela mulher do outro e não mede esforços para conquistá-la.
Descontado o dramalhão, o que chama a atenção em "Vem Dormir Comigo" são os diálogos paralelos que os muitos personagens do filme travam nas inúmeras festinhas de que participam em Los Angeles.
É como se toda a verborragia compulsiva dos personagens resultasse, afinal, naquilo que os estudiosos chamam de função fática da linguagem -palavras desprovidas de sentido, cuja finalidade se resume em estabelecer contato entre dois pássaros falantes.
Quem tem menos de 30 anos e costuma frequentar festinhas como as do filme fatalmente irá se reconhecer naquelas cenas. Se isso não melhora em nada o eventual desconforto, serve para mostrar que aqui, em Los Angeles, Paris ou Nova York o processo de cretinização coletiva é um só. São as vantagens da globalização.

Vídeo: Nu em Nova York
Direção: Dan Algrant
Distribuição: PlayArte/Look (tel. 011/575-6996)
Vídeo: Vem Dormir Comigo
Direção: Rory Kelly
Distribuição: HVC (tel. 011/826-0

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