São Paulo, quarta-feira, 6 de setembro de 1995
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'Sonho de Liberdade' tem clareza exemplar

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

'Sonho de Liberdade' tem clareza exemplar
Não é pouco o que se mostra em "Um Sonho de Liberdade: o julgamento de um homem (o vice-presidente de um banco; Tim Robbins), sua condenação à prisão perpétua, a chegada ao presídio de Shawshank, sua amizade com o velho detento Red (Morgan Freeman) e suas relações com os outros daquela comunidade.
Como não é um documentário, há também uma intriga. Uma intriga interessante, sobre a qual convém não avançar muita coisa, pois só no final serão costurados os pontos dessa longa.
A história começa nos anos 40, no pós-guerra e recobre cerca de 20 anos de história. O único elemento de significação exterior ao universo carcerário são os pôsteres de atrizes de cinema, que se revezam na parede da cela de Tim Robbins: Rita Hayword, primeiro, Marilyn, depois, Raquel Welch, para terminar.
O filme carcerário é, como se sabe, um osso. Poucas vezes os filmes conseguem não sucumbir à tentação de criar um enfrentamento entre os pobres presos (vistos como vítimas) e a direção (sádica, na melhor das hipóteses), terminando com uma fuga espetacular.
Talvez a principal virtude seja iludir esse sistema (que tem, no mais, muito de verdadeiro), sem contornar nenhum de seus elementos e sem deixar-se levar por ele. No setor violência, por exemplo, há um chefe de guarda sádico, homossexuais que pegam os colegas à força (os "sodomitas), morte de detentos. Sem contar o tradicional diretor corrupto.
Mas algumas coisas se infiltram nisso tudo, que chamam a atenção: o dia-a-dia dos detentos, suas táticas para sobreviver, a dificuldade de viver fora da cadeia quando e se, muitos anos depois, recebem a liberdade condicional.
São todos flagrantes que arejam e iluminam o filme. Mas, embora se possa assinalar as virtudes da evolução da trama, é na exposição que se encontram suas principais qualidades.
Darabont consegue narrar seu filme com uma clareza assombrosa. Não é uma coisa assim tão evidente. Há tramas e subtramas que se cruzam o tempo todo. No entanto, o espectador em momento algum se perde nelas.
É uma qualidade que vem do roteiro, mas há que se creditar essa clareza, também, à direção. É como se Darabont, originalmente roteirista, se preocupasse todo o tempo em localizar o espectador na ação, nunca deixando ele sem referências. A isso, o filme acrescenta uma grandeza que vem, em grande parte, de seus atores.
Os méritos de "Um Sonho de Liberdade" não são tão evidentes assim. Aparecem com mais nitidez na segunda visão. Em matéria de Hollywood, isto costuma ser um atributo de filmes de longa vida.

Filme: Um Sonho de Liberdade
Produção: EUA, 1994
Direção: Frank Darabont
Elenco: Tim Robbins, Morgan Freeman
Distribuição: PlayArte (tel. 011/575-6996)

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