São Paulo, quarta-feira, 6 de setembro de 1995
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Brasileiros (quem diria) anunciam cura da Aids

GILBERTO DIMENSTEIN

Atraído por um programa de televisão que entrou pela madrugada, telefonei ontem para o número 718-789-4759, no Brooklyn. Em segundos, estava diante do maior furo profissional de minha vida ou, mais provavelmente, de alguém tentando me enganar.
Fui informado de que o Brasil fez a maior descoberta do final de milênio: a cura da Aids. E adivinhe de quem é a patente -da Igreja Universal do Reino de Deus, um produto 100% nacional. Na estratégia de arrebanhar fiéis, eles prometem qualquer milagre -inclusive vencer a luta contra o HIV.
As promessas são ingredientes na ofensiva de marketing da Igreja Universal para lotar, dia 17 de setembro, às 15h, o Madison Square Garden, maior casa de espetáculos de Nova York, palco dos melhores shows de rock da cidade.
A julgar pela propaganda televisiva e telefônica dos pastores, o Madison, acostumado mais com transes de fãs diante de roqueiros do que com tremeliques de cenas de exorcismo, vai se transformar no maior pátio de milagres da história de Manhattan. "Os mudos vão falar, os cegos vão ver e os paralíticos, andar, garante o emocionado pastor/locutor, em meio ao depoimento de pessoas que juram ter escapado dos mais diferentes tipos de desgraças.
Perguntei ao pastor que atendeu meu telefonema se, além do vício de drogas e bebidas, desemprego, cura do câncer, a Igreja Universal também curava Aids. A resposta veio direta. "Tenha fé, muita fé, que tudo se resolve". A prova? No Brasil, aidéticos ficaram livres da doença. Claro que, além da fé, uma módica doação ajuda.
A julgar pela disseminação da Igreja Universal por aqui, depois de Carmen Miranda e Tom Jobim, o bispo Edir Macedo concorre para ser o brasileiro de maior influência, digamos, cultural em Nova York. Sinceramente, não sei para quem fica pior, se para o Brasil ou para os Estados Unidos.
PS - O escritor Paulo Coelho, que já assinou contrato com Hollywood, não perde por esperar.

A Universidade de Princeton revela em tom indignado que os universitários americanos gastam mais dinheiro com bebida do que com livros. Total da bolada: R$ 5,5 bilhões por ano. Bem mais do que gastamos com nossas universidades federais. Vamos convir: pela qualidade de algumas faculdades no Brasil, nossos alunos teriam muito mais motivos para beber que seus colegas americanos.

Por falar em universidades, veja alguns salários mensais de reitores e de chefes de hospitais nos EUA: Mount Sinai Medical Center - US$ 70 mil; Universidade de Nova York - US$ 30 mil; Universidade de Stanford - US$ 26 mil; Universidade de Columbia - US$ 22 mil.
PS - Eles ganham mais do que o presidente (US$ 16 mil) ou um parlamentar (US$ 9 mil). É bem menos, porém, do que os principais executivos da GM (US$ 300 mil), AT&T (US$ 302 mil), Exxon (US$ 150 mil) e Phillip Morris (US$ 149 mil).

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