São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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FHC vai à Europa em busca de alternativas

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Fernando Henrique Cardoso inicia quarta-feira uma viagem por Bruxelas, capital da UE (União Européia), e pela Alemanha com uma definição política muito clara.
"Não queremos ficar encurralados em uma só hipótese de associação", diz o presidente.
É uma referência ao fato de que tanto a UE como o Nafta (o conglomerado EUA, Canadá e México) estão propondo uma associação com o Mercosul que, a médio prazo, desague em uma ZLC (zona de livre comércio).
ZLC implica a paulatina redução das tarifas de importação entre os países-membros, até eliminá-las de todo.
Os EUA propuseram, durante a chamada Cúpula das Américas, realizada em dezembro em Miami, que a associação entre todos os 34 países americanos, excluída Cuba, se faça até o ano 2005.
O governo brasileiro considera a data prematura.
"É uma coisa muito forte. Não podemos entrar numa relação desse tipo sem ter convicção plena de nossos interesses", afirma o presidente Fernando Henrique Cardoso.

Opção
A proposta européia de associação com o Mercosul permite, por isso, a escolha de qual "é a opção que nos oferece as melhores condições", diz o presidente.
A visita de FHC à capital da União Européia vai coincidir com o início das negociações para a assinatura, talvez ainda este ano, de um acordo-quadro entre o Mercosul e a UE.
"É mera coincidência", faz questão de afirmar Jório Dauster, o embaixador do Brasil junto à União Européia.
"Assim como os norte-americanos já perceberam que a integração das Américas passa pelo Brasil, os europeus sabem que o Mercosul também depende do Brasil", acredita o presidente.
A negociação entre os dois blocos que coincidirá com a visita presidencial é da maior importância por pelo menos três razões:
1 - Trata-se do primeiro ensaio para se formar, no futuro, uma ZLC (zona de livre comércio) entre conjuntos de países que não são vizinhos. Ao contrário, estão separados por um oceano.
2 - Se se chegar a essa ZLC, ela será a maior do planeta.
3 - Passa a haver uma competição surda, em torno de prazos, entre os EUA e os europeus para atrair o Mercosul.

Prioridades
Em tese, não há incompatibilidade entre negociar com a UE e com o Nafta ao mesmo tempo, insistem sempre os diplomatas brasileiros.
Mas o consumo de energias e massa cinzenta que terá de ser aplicado em tais negociações tende a forçar o Brasil a dar prioridade ou aos europeus ou aos americanos.
Já há quem aposte em qual será a prioridade escolhida.
"O Brasil tem sido talvez o país latino-americano com o discurso mais cauteloso quando se trata de uma eventual constituição de um bloco econômico americano", escreve Renato Baumann, do escritório da Comissão Econômica para a América Latina no Brasil, em trabalho para o simpósio Brasil/Alemanha.
Por enquanto, no entanto, se está nas preliminares.

Moldura
O acordo-quadro cuja negociação começa quando FHC estiver em Bruxelas é o jargão diplomático para designar um entendimento que dá a moldura geral de um acordo sem descer aos detalhes.
No caso específico do Mercosul e da UE, prevê, em essência:
1. Know-how de integração - A UE, com 38 anos de experiência em assuntos de integração, pode transferir conhecimento ao Mercosul sobre itens como a unificação alfandegária.
"Até para que não tenhamos que reinventar a roda", brinca Jório Dauster.
2. Investimentos - O exame de medidas que possam estimular mais investimentos da União Européia no Mercosul, em especial nas áreas de infra-estrutura, transportes, comunicação, ferrovias etc.
3. Consultas políticas - Não faz parte diretamente do acordo-quadro, mas a expectativa é de que se iniciem também os entendimentos em torno de consultas políticas permanentes entre os 19 países dos dois blocos.

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