São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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Alemanha quer associações para Leste europeu

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Fernando Henrique Cardoso ouvirá, em sua visita oficial à Alemanha, a partir do dia 18, uma proposta ousada: os dois governos deveriam estimular a formação de empresas conjuntas brasileiro-alemãs para operar nos mercados africanos e do Leste europeu.
O presidente se diz disposto a encorajar esse tipo de propostas. "Vale a pena, na medida em que for possível", diz.
A importância da proposta aumenta ainda mais quando se considera que o Leste europeu, por ora, é muito mais um competidor do Brasil do que uma perspectiva de eventuais parcerias.
"Os países do Leste europeu poderão adotar estratégias agressivas de exportações e, dada a relativa similaridade com o Brasil de suas pautas de vendas externas de manufaturados e semimanufaturados para o mercado europeu, pode haver impacto negativo importante", avalia, por exemplo, Lia Valls Pereira, economista da Fundação Getúlio Vargas, em trabalho para o simpósio Brasil/Alemanha, realizado em São Paulo em agosto.
A proposta de joint-ventures a ser sugerida pelos alemães reflete a ofensiva que o governo de Bonn está lançando em direção à América Latina, com óbvia ênfase no Brasil.
Afinal, o Brasil é o destinatário de US$ 9,5 bilhões em investimentos diretos alemães ou cerca de 15% do estoque total de US$ 72,5 bilhões que estrangeiros colocaram no país.
Mais do que a Alemanha, só os EUA, com 32%.
Ao todo, há 1.027 empresas de origem alemã operando no Brasil. Geram 400 mil empregos diretos e produzem o equivalente a 15% do PIB brasileiro (a soma de todas as riquezas geradas em um país em um dado ano).
O auge da entrada de capital alemão ocorreu na década de 70, quando o estoque crescia a uma taxa anual de 17.6%. Entre 70 e 80, a Alemanha investiu US$ 6.1 bihões no Brasil, mas apenas US$ 1 bilhão entre 85 e 1992.
A reação do governo veio em maio, com a divulgação da chamada "Iniciativa para a América Latina".
A "Iniciativa" define linhas gerais para a política econômica alemã em relação à região, com ênfase no incentivo às empresas de médio e pequeno portes para se instalar na região e ocupar nichos ainda vagos.
No documento, as autoridades alemãs admitem que o país está ameaçado de perder importantes oportunidades de investimento criadas pelas reformas econômicas em andamento nos países latino-americanos.
A viagem de FHC é uma extraordinária oportunidade para que os documentos de intenções se transformem em projetos concretos.
"Quando as condições da política econômica brasileira se definirem melhor, cerca de US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões estão encaminhados para aplicação no país", diz Werner Ross, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha de São Paulo.
Essa quantia "não inclui a Volkswagen, que planeja investir sozinha US$ 2,5 bilhões nos próximos cinco anos", completa Ross.

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