São Paulo, domingo, 10 de setembro de 1995
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Madredeus canta à luz do sol no parque

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

Show: Madredeus
Quando: Hoje, às 11h
Onde: praça da Paz, portão 6 do Parque Ibirapuera, zona Sul
Quanto: Grátis

O sexteto lisboeta Madredeus troca os fumos teatrais pela luz do sol no show gratuito que faz hoje, a partir das 11h, na praça da Paz do Parque Ibirapuera.
O grupo acaba de completar uma turnê pelo Brasil que compreendeu sete shows em Salvador, São Paulo e Belo Horizonte.
Segundo o cálculo da produção da excursão, o Madredeus amealhou um público total de 7 mil pessoas, sem contar o show ao ar livre no Pelourinho em Salvador, que juntou 10 mil.
O espetáculo de hoje integra a série São Paulo Passo e Compasso, patrocinada pela Secretaria Municipal de Cultura.
O show segue o roteiro da turnê, só que sem intervalo. Dura uma hora e meia e traz 18 composições, a maior parte tirada dos dois últimos CDs.
Madredeus é o grupo pop mais importante de Portugal. Além de ter vendido 1 milhão de cópias no mundo com seis CDs, acaba de tomar parte do filme "Lisbon Story", do diretor alemão Wim Wenders, tanto como músicos quanto como atores.
Wenders se encantou pela delicadeza melódica e a voz de Teresa Salgueiro, 26, a soprano ligeiro coloratura (voz superaguda) que tece o fio condutor do grupo.
Teresa virou uma das protagonistas do filme, que conta as dúvidas criativas de um cineasta. No filme, o Madredeus termina por convencer o diretor a voltar a filmar. Wenders baseou-se na música introspectiva do grupo para filmar paisagens de Lisboa.
Madredeus faz jus à aura. Nos shows em casas de espetáculos, a iluminação e o gelo-seco toldam os músicos com ares de mistério.
É a maneira encontrada pelo violonista Pedro Ayres Magalhães, 36, fundador do grupo em 1986, para adequar a visualidade ao espírito simbolista das suas composições.
Curiosamente, os músicos garantem que a arte que praticam não vela à exposição de luz natural. "Adoramos tocar em estádios", jura Teresa. "Já nos apresentamos para 50 mil em Lisboa e conseguimos adaptar bem os arranjos às necessidades da massa. Nosso concerto no Pelourinho, no último dia 26 de agosto, foi uma maravilha de integração."
O violoncelista Francisco Ribeiro, 29, não teme as multidões: "Cantamos de qualquer forma com amplificação. Em Portugal temos um equipamento quadrafônico para ocasiões como essa."
Pedro não tem ilusões quanto ao alcance de suas criaturas. "Sempre seremos músicos para um público restrito", imagina.
Ele projetou o sexteto para caber numa van e, ao mesmo tempo, introduzir a noção de espetáculo na cena pop de Lisboa . "A cidade vivia o renascimento da boêmia e pedia uma nova concepção musical, não-roqueira. Assim, com poucos elementos, poderíamos viajar sem grandes problemas por todo o mundo."
Acertou. Madredeus viaja sem parar há dois anos. "Nossa digressão é tão maravilhosa que se converteu no nosso tema favorito", diz Teresa. "Fazemos fantasias sobre a canção e a poesia."
As canções são talhadas sob medida para ela. Alguns títulos: "Ainda", "O Tejo"', "Os Moinhos". Os temas são os típicos do fado português: saudade, abandono, solidão, vazio, contemplação. As melodias resultam de mesclas de fado, folclore celta e pop inglês dos anos 80.
Segundo Pedro, a inclusão do violoncelo e do acordeão se deveu à presença de Teresa, selecionada em um teste, feito antes da fundação do grupo, em um teatro do bairro industrial de Madre de Deus em Lisboa.
O balanço sonoro de Madredeus tem a fragilidade de um poema, e de um fio vocal. Exibir-se no Ibirapuera, para um público esperado de 10 mil, representa mais um teste de sol na já longa digressão do conjunto.

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