São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FHC gasta R$ 370 mi a mais por mês este ano

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo FHC está gastando, por mês, R$ 370 milhões a mais que seu antecessor. Mas só aumentaram os gastos com saúde e salários do funcionalismo. Todos os demais caíram ou ficaram estáveis, mantendo-se, no geral, um brutal arrocho nas contas federais.
"É um forte ajuste", afirma o economista Raul Velloso, o mais respeitado especialista em orçamentos públicos no país.
Mesmo assim, o governo FHC tem feito um saldo mensal que é de R$ 105 milhões inferior ao registrado no ano passado. Ou seja, a despesa tem crescido mais que a receita.
Para entender as contas federais, Raul Velloso as divide em quatro grandes itens, a saber:
Receita líquida - É a arrecadação de impostos federais, menos o dinheiro transferido para os Estados e municípios e para fundos de gasto obrigatório. Não inclui receita da Previdência e do salário-educação, pois esse dinheiro vai direto para os ministérios gastarem e não passa pelos cofres do Tesouro.
Gastos com pessoal -Inclui salários do funcionalismo e dos aposentados do governo federal.
Outros custeios e investimentos - É dinheiro que se gasta com programas sociais, investimentos, como a construção de escolas, e despesas gerais, como o cafezinho.
Saldo de caixa - o resultado da receita líquida menos as despesas com pessoal, de custeio e investimento.
Essas são as contas básicas da União. Trata-se do dinheiro que passa pela Secretaria do Tesouro Nacional, órgão do Ministério da Fazenda que faz o papel de caixa-pagador. É ela que passa os recursos para os ministérios.
Estão aí os gastos não obrigatórios, sobre os quais, portanto, o governo tem algum controle. Pode fazer ou não fazer.
Como se observa na tabela ao lado, comenta Raul Velloso, o ajuste começou em 1994, já como preparação do Plano Real, e com Fernando Henrique Cardoso como ministro da Fazenda.
Houve um ganho de receita em relação a 1993 (mais 34,7%, ou R$ 1,15 bilhão). Mas somente uma pequena parte disso, R$ 350 milhões, foi gasta. O resto foi economizado.
O principal aumento nas despesas foi com pessoal, basicamente por causa da aplicação das regras de isonomia, determinada pelo então presidente Itamar Franco.
Neste ano, os efeitos da isonomia continuaram. A conta de salários pulou, até aqui, mais R$ 300 milhões por mês, impulsionada ainda pelo reajuste pelo IPC-r.
Já os gastos com custeio e investimento saltaram R$ 74 milhões mensais. Tudo isso está consumindo o ganho de receita verificado neste ano, mas ainda assim há um arrocho.
Acontece que só as despesas na área de saúde pularam de uma média mensal de R$ 500 milhões, em 1994, para R$ 600 milhões neste ano. Isso significa que outras áreas do governo estão perdendo R$ 26 milhões por mês.
Tudo considerado, o saldo de caixa mensal verificado até aqui indica que o governo federal pode fazer um superávit de quase R$ 10 bilhões neste ano.
É um pouco menor do que o registrado no ano passado (R$ 10,8 bilhões), mas ainda assim um saldo respeitável. Não significa, entretanto, que está sobrando dinheiro.
Esse superávit, chamado "primário" no jargão dos economistas, destina-se a pagar a conta de juros. Trata-se aqui dos juros que o governo paga sobre os papéis que vende no mercado financeiro, para financiar déficits históricos.
Ou seja, o que o governo federal economiza hoje nos seus gastos básicos mensais é para pagar juros de uma dívida feita durante anos em que a administração gastou mais do que arrecadou.
No ano passado, o saldo de caixa de R$ 10,8 bilhões deu para pagar a conta de juros e ainda sobrou. Foi um equilíbrio financeiro rigoroso, base do Plano Real.
Neste ano, há dúvidas. Para conter o consumo e impedir a saída de dólares, em março o governo federal deu um tiro no pé: aumentou brutalmente sua conta de juros.
Segundo o próprio presidente FHC, em termos reais essas despesas chegarão a R$ 15 bilhões neste ano. O economista Luiz Carlos Mendonça de Barros estima R$ 17 bilhões.
Ou seja, até o final do ano, o governo precisa ou reduzir a conta de juros ou arrochar ainda mais as despesas para manter o equilíbrio.

Texto Anterior: Para Covas, BC 'tergiversa'
Próximo Texto: Gasto passa por controles
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.