São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 1995
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Estado não 'ouve' jovens favelados

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem o Estado nem os movimentos sociais organizados estão conseguindo incorporar em suas ações os anseios dos jovens, em especial dos favelados.
O resultado dessa falta de espaços físicos e institucionais para a expressão da subjetividade dos jovens urbanos tende a ser violento -como a "guerra" do Pacaembu, em que torcidas organizadas se enfrentaram, deixando um morto.
A dissertação "Jovens: Vida Associativa e Subjetividade - Um Estudo dos Jovens do Jardim Oratório", de Marilena Nakano, 47, traz observações relevantes para compreender o problema dessa violência juvenil no país.
Na própria abordagem do tema, a autora propõe um olhar diferente: "Ter como foco os próprios jovens na sua ação. Sair do estrutural. Pegar o sujeito que age".
A proposta não é simples para a maioria dos cientistas sociais, mais acostumados a se debruçar sobre estatísticas e grandes categorias -como Estado e classes-, do que a tentar entender como pensam e o que move os indivíduos em sociedade.
Nakano trabalhou com cerca de 60 jovens (14 a 24 anos) do Jardim Oratório, a maior favela de Mauá, na Grande São Paulo.
A "tensão" que percorre todo o trabalho é a oposição, não manifesta, entre os anseios do Movimento de Urbanização do Jardim Oratório, feito por adultos, e os dos jovens que moram no lugar.
"Os movimentos sociais não perceberam o que os jovens estão dizendo, nem os jovens perceberam os movimentos", diz Nakano.
Enquanto o movimento "adulto" do Jardim Oratório luta para conseguir melhorar a infra-estrutura da favela -pavimentação, água, eletricidade etc.-, os jovens estão deparando com a violência do lugar, com o estigma de favelado e com um mundo que cria "necessidades" como ter um tênis dessa ou daquela marca.
A saída para o impasse, defende Nakano, é o deslocamento dos anseios dos jovens de uma esfera individual -na qual se manifestam- para uma esfera mais coletiva, social. O problema é que, por enquanto, nem o Estado é capaz de criar os espaços necessários para isso, nem os movimentos sociais estão conseguindo incorporar os anseios dos jovens.
(FR)

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