São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 1995
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Fleury vai depor no caso Carandiru

VICTOR AGOSTINHO; MARCELO GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-governador Luiz Antônio Fleury Filho foi relacionado ontem como testemunha de defesa no julgamento dos PMs que participaram do massacre do Carandiru.
Em 2 de outubro de 1992, a tropa de choque da PM, sob pretexto de conter uma rebelião, invadiu a Casa de Detenção de São Paulo e matou 111 presos.
O Ministério Público denunciou 120 PMs sob a acusação de assassinato.
Termina hoje o prazo para os advogados dos policiais acusados entregarem a lista das testemunhas de defesa na 1ª Auditoria do TJM (Tribunal de Justiça Militar do Estado). Cada advogado pode arrolar três testemunhas por réu.
Até ontem, o Conselho Especial de Sentença do TJM, composto por quatro coronéis da PM e um juiz civil (juiz togado), já tinha ouvido 87 presos, vítimas de espancamento durante o massacre, e 18 testemunhas de acusação.
Além do ex-governador, também foi arrolado como testemunha de defesa o então secretário da Segurança Pública, Pedro Franco de Campos.
A tese de defesa do advogado Antônio Fernando Pinheiro Pedro, que representa 18 PMs e que relacionou Fleury e Campos como testemunhas, parte do princípio de que houve uma ordem para que os policiais iniciassem a operação e que essa ordem partiu de Campos, com consentimento de Fleury.
Segundo Pinheiro Pedro, "há conexão da atitude do governador com a ação que se desenvolveu na Casa de Detenção".
A defesa quer, com os testemunhos do ex-governador e do ex-secretário, que se "esclareça a autoria dos delitos".
Esta poderá ser a primeira vez que o ex-governador depõe no processo sobre o massacre do Carandiru.
"Precisamos saber quem deu a ordem de invasão. A responsabilidade deve ser imputada ao comando e, obrigatoriamente, a ordem deveria partir do governador do Estado", disse Pinheiro Pedro.
O advogado afirmou ainda que o julgamento dos 120 policiais militares está sendo um "Nuremberg às avessas, em que os comandantes estão ficando de fora de todo o processo".
Em Nuremberg (Alemanha), entre 1947 e 1949, foram julgadas as atividades civis e militares dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial -especialmente dos oficiais em comando.
O julgamento do massacre do Carandiru é o maior julgamento do mundo depois do de Nuremberg.
Envolve, por enquanto, 120 réus, 111 mortos, 87 vítimas de espancamento e 18 testemunhas de acusação.

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