São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 1995
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Gary Sinise procura papel à sua altura

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Gary Sinise é um ator à procura de um papel principal à sua altura.
Muitos críticos e apreciadores de cinema assistiram sábado à noite a rede de TV por cabo HBO para checar se a sua busca havia terminado.
Sinise é o dono do show em "Truman", biografia do 33º presidente dos EUA, produzida pela HBO, que estreou com muita publicidade no sábado.
Em "Truman", Sinise não tem que dividir espaço com nenhum grande ator, como John Malkovich em "Ratos e Homens" (1992), nem que ficar à sombra de Tom Hanks como em "Forest Gump" (1994) e "Apollo 13" (1995).
Mas "Truman", infelizmente para Sinise, ainda não vai ser o objeto de sua consagração como grande astro.
Seu desempenho é excelente, como todos os os outros de sua curta carreira no cinema. De formação teatral, Sinise é um ator maduro, completo.
Maquiagem perfeita o transformou num sósia exato de Truman.
O personagem é bom. Truman foi a pessoa menos sofisticada a ter ocupado a Casa Branca neste século, com a provável exceção de Gerald Ford. Entrou na política aos 50 anos, quando se elegeu senador pelo Estado de Missouri num lance de sorte.
Virou vice-presidente por falta de opção de um morimbundo Franklin Roosevelt e cumpriu quase todo seu quarto mandato.
Reelegeu-se em 1948, na maior surpresa eleitoral da história presidencial norte-americana, como registrou a célebre foto de Truman no dia seguinte à eleição com um jornal que dava em manchete a vitória ao seu adversário.
Era um homem simples que, presidente, descia à cozinha da Casa Branca para agradecer aos empregados por um bolo, dizia palavrões em encontros com diplomatas, escrevia cartas desaforadas para críticos de arte que não elogiavam o desempenho de sua filha cantora lírica.
O livro em que o filme se baseia, "Truman", de David McCullough, também é bom. Mas o resultado final é fraco.
O problema em parte está na dificuldade de se concentrar 35 anos de história (de 1917, quando Truman se alista no Exército a 1952, quando entrega a Presidência a Dwight Eisenhower) em duas horas e 15 minutos.
É uma tarefa impossível dar conta de descrever uma personalidade tão complexa quanto a de Truman mais todas as decisões históricas que ele teve que tomar (a bomba atômica sobre o Japão, a Guerra da Coréia, o fim da segregação racial nas Forças Armadas) em tão pouco tempo.
Ainda mais quando o diretor não é dos mais talentosos, como é caso de Frank Pierson, um ótimo roteirista ("Um Dia de Cão", de Sidney Lumet, lhe deu o Oscar em 1975) que nunca deu certo como diretor (seu maior êxito foi o medíocre "Nasce Uma Estrela", com Barbra Streisand, em 1976).
"Truman" é apressado, superficial e convencional demais e trata o personagem principal com tanta condescendência que parece peça de propaganda para uma campanha eleitoral do presidente (que morreu em 1972, aos 88 anos).
O colunista JOSÉ SIMÃO está em férias até 25 de setembro

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