São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Coreógrafa senegalesa homenageia Zumbi

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Balé da Cidade de São Paulo também vai homenagear Zumbi, o líder negro cujos 300 anos de morte estão sendo comemorados neste ano. Para isto, contará com dois ilustres convidados: Gilberto Gil e a coreógrafa senegalesa Germaine Acogny.
Considerada a grande dama da dança moderna africana, Acogny começa a ensaiar neste mês a coreografia "Z", que o Balé da Cidade estréia no Parque do Ibirapuera em 19 de novembro, véspera do Dia da Consciência Negra.
Em dezembro, "Z" estará em temporada no Teatro Municipal, entre dias 5 e 10, e depois no Centro Cultural São Paulo, de 13 a 17.
"Z" terá música de Gilberto Gil que, pela primeira vez, comporá especialmente para um espetáculo de dança. "Espero estar à altura", disse Gil à Folha. Ele e Acogny conheceram-se no mês passado, num almoço na casa de Gil, no Rio de Janeiro.
"Parecia que nos conhecíamos de longa data", observa Acogny, 51. Respeitada na Europa, onde dirige um centro de pesquisas na cidade francesa de Toulouse, ela realiza uma interpretação contemporânea da cultura africana.
Criada em uma tribo ioruba de Benin, Acogny estudou na França e nos Estados Unidos. Aprendeu dança clássica e a técnica moderna de Martha Graham. Quando conheceu outro coreógrafo norte-americano, Alvin Ailey, percebeu diferenças fundamentais.
"Ao me comparar com os artistas negros dos Estados Unidos, notei que eles buscavam suas raízes, enquanto eu era a própria raiz". Disposta a emancipar a arte de suas origens, Acogny percorreu aldeias africanas, pesquisando as manifestações de cada região.
Com o tempo, desenvolveu uma técnica própria, que sintetiza elementos rurais, urbanos, contemporâneos e tradicionais, como as danças do Sahel, que se concentram nos movimentos das pernas, e das florestas de Casamance, voltada para os ombros e quadris.
A beleza cênica de seus espetáculos conquistou o coreógrafo Maurice Béjart, que refere-se a Acogny como "meu duplo africano". Com o apoio de Léopold Senghor, antigo presidente do Senegal, ela e Béjart fundaram a escola Mudra Afrique, que funcionou de 1977 a 1985 na cidade senegalesa de Dacar.
"Era uma escola pan-africana do espetáculo", diz Acogny, que com seu marido alemão, Helmut Vogt, está retomando projeto semelhante em Toubab Dialao, também no Senegal. "Compramos um terreno de 25 mil metros quadrados, onde vamos construir um grande centro de aprendizagem, criação e intercâmbio", diz.
Durante sua rápida passagem pelo Brasil, Acogny deu uma aula inaugural para o Balé da Cidade de São Paulo. "Propus passos difíceis, baseados no intenso contato do corpo com a terra. Embora seja uma companhia de formação clássica, constatei que os bailarinos são muito abertos a coisas novas e não há pretensão. Esse conjunto de qualidades é extraordinário".
No final deste mês, ela volta a São Paulo para trabalhar durante 90 dias com o Balé da Cidade. Acogny já finalizou o roteiro de "Z", cujo tema refere-se a Zumbi como um ser universal. "Zumbi simboliza a liberdade que está em cada um de nós, um desejo eterno que a dança e a música vão celebrar", explica a coreógrafa.

Texto Anterior: Gary Sinise procura papel à sua altura
Próximo Texto: Gil vai trabalhar com Carlinhos Brown
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.