São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 1995
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Gil vai trabalhar com Carlinhos Brown

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando surgiu o convite para criar a música de "Z", novo espetáculo do Balé da Cidade de São Paulo, Gilberto Gil estava na Europa. Na época, vendo um programa especial de televisão sobre o bailarino Mikhail Baryshnikov, comparou a dança a quadros de Van Gogh e Monet.
"Relacionei a corporificação daquelas coreografias do Baryshnikov a coisas difíceis de serem alcançadas, como a pintura", diz Gil. "Adoro dançar, adoro usar meu corpo para expressar musicalidade através dos pés, das pernas. Mas, a dança como categoria artística cultivada eu acho uma coisa dificílima", diz o compositor.
A seguir, alguns trechos da entrevista de Gil à Folha sobre seu envolvimento com "Z".

Folha - Quais suas impressões sobre Germaine Acogny?
Gilberto Gil - Fiquei muito bem impressionado com ela. Germaine é linda, uma mulher quase de minha idade, na plenitude de sua vida madura, com um trabalho excelente. Ela tem relações com músicos importantes do Senegal, como Dudu Rose, amigo nosso e percussionista da melhor tradição senegalesa.
Em nossa conversa, percebi a sensibilidade dela sobre a concepção libertária de Zumbi para a vida brasileira. Também notei sua vasta experiência em dança, sua relação com a música e a poesia.
Folha - Como será a participação de Carlinhos Brown e Rodolfo Stroeter na trilha sonora?
Gil - Como estou em estúdio, fazendo meu próximo disco, estou sem tempo de trabalhar com o Balé da Cidade em período integral. Por isso, chamei o Carlinhos Brown e o Rodolfo Stroeter para dividir a tarefa comigo.
Devo criar três temas, que vão se esparramar em vários climas diferenciados, mais suaves, mais intensos, percussivos, melódicos, durante a coreografia.
O Rodolfo, o Brown e eu vamos trabalhar nos próximos dias na gravação destes temas. Depois o Rodolfo se encarrega do trabalho junto ao Balé, em São Paulo.
Folha - Germaine Acogny já deixou instruções prontas?
Gil - Germaine já roteirizou muito bem o que ela quer, os momentos, as funções da trilha em relação ao balé. Ela dividiu em seis estágios, e a progressão tem um tema, tem o diálogo entre os elementos masculino e feminino, que vai perpassar a peça inteira.
Folha - A música de "Z" terá a percussão como ponto forte, como nos balés de Acogny?
Gil - Sim, a percussão vai ser dominante, porque Zumbi remete às nossas origens africanas e também à importância do tambor na música, na fala e no gesto brasileiros, enfim, na expressividade toda do Brasil.
(AFP)

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