São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 1995
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'Imagem artificial diz mais que a natural'

DO ENVIADO ESPECIAL

Eder Santos diz na entrevista a seguir que quer fundar uma nova linguagem visual, misto de cinema e vídeo.
Folha - Você dizia que o cinema é muito primitivo. Por que trocar o vídeo pelo cinema?
Eder Santos - Eu sempre fui encantado pelo cinema e nunca gostei da imagem do vídeo. A imagem eletrônica é a da novela. Sempre detestei isso. Quando comecei a trabalhar com vídeo, tentei sair fora dessa imagem. Eu buscava um cinema de mentira.
Em "Essa Coisa Nervosa", em que eu uso a oscilação da luz do projetor sobre imagens de vídeo, me chamaram até de falsário do cinema. Fiz o filme em cinema para tentar chegar ao que eu quero do vídeo: textura e profundidade.
Folha - Todas as imagens que você usa são manipuladas eletronicamente. Você não gosta da imagem pura do cinema?
Santos - Não gosto da imagem pura do cinema nem da imagem pura do vídeo. Isso me incomoda. Imagem do cinema é realista demais. Manipulo para mostrar que a imagem é artificial mesmo. É parecido com o que o Tarkovski faz.
Não consigo deixar a imagem natural. Por isso montei em vídeo. Mudo os focos de luz na edição, o que é impossível fazer em cinema.
Folha - Por que você busca a artificialidade?
Santos - A imagem artificial diz mais do que a suposta imagem natural. Aumenta o número de significados quando você estica uma imagem, muda a cor. Quando vi "O Mistério de Oberwald" (de Antonioni), feito em vídeo, senti que a artificialidade toca mais quando a cor salta da tela.
Acho que é preciso trabalhar a imagem para pegar as pessoas como uma pintura. Antes de fazer vídeo queria fazer desenho animado. Acho que meu filme tem animação, mas com atores de verdade.
Folha - Você abandonou narrativa, diálogo e ação no filme. Onde você quer chegar?
Santos - Não sou capaz de contar uma história. Nunca escrevi diálogo ou ação. Já escrevo pensando em imagens. Tentei colocar no filme um fio condutor, o profeta, mas o texto fala mais de manipulação de imagens do que dele.
Folha - Você usa muito efeito. Não tem medo de ser confundido com um Hans Donner tenta fazer arte?
Santos - Meu filme é sobre o encanto dos efeitos, mas só que tento dizer alguma coisa com eles. Nunca uso o efeito pelo efeito, como acontece na TV. Uso para criar uma linguagem.
Folha - A idéia é destruir a imagem do cinema?
Santos - Acho que sim. Fico destruindo, sujando, colocando coisas em cima para destruir a imagem do cinema e construir uma outra imagem. A linguagem do cinema é defasada em relação à tecnologia. Mesmo nas superproduções de Hollywood. Eles usam a alta tecnologia para chegar a uma realidade fantástica, maravilhosa. Isso para mim não é linguagem.

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