São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 1995
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Aborto

A discussão do aborto por certo não é simples. Trata-se de uma medida extrema que não pode e não deve ser usada como um método normal de contracepção.
É inegável, porém, o fato de que ele já se tornou um problema de saúde pública. Para muitas mulheres, principalmente para aquelas que jamais ouviram falar de controle de natalidade, o aborto acaba sendo o único meio de evitar um filho indesejado. E, por ser proibido, elas muitas vezes tentam realizar a operação sozinhas ou recorrendo a algum "açougueiro", o que, não raro, resulta na morte da paciente ou sequelas bastante graves. Não considerar esse dado de realidade é como esconder o sol com a peneira: inútil.
A atual legislação brasileira, que só permite a realização do aborto quando a vida da gestante estiver em perigo ou quando a gravidez resultar de estupro, também parece antiquada quando se considera que a ciência hoje é capaz de detectar ainda no feto a ocorrência de doenças graves e incuráveis. É justo obrigar um feto nessas condições a tornar-se um bebê ou exigir dos pais que sacrifiquem parte de suas vidas para manter um filho que estará condenado a uma vida muito breve ou muito sofrida?
A atual lei também proíbe o uso de novos medicamentos como a pílula do dia seguinte que provoca um aborto extremamente prematuro e razoavelmente seguro.
A liberdade de praticar o aborto, ainda que limitada a certas condições, é uma discussão que precisa ser melhor aprofundada, inclusive porque para muitos parece que ela se torna ainda mais premente em face dos avanços científicos e dos males que os abortos clandestinos provocam à saúde da mulher.

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