São Paulo, sexta-feira, 15 de setembro de 1995
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Maratona do medo

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Sequestros assim, longos, intermináveis, com impasses, fazem a festa da televisão no Brasil, hoje.
Fazem a festa, claro, do Aqui Agora, "o telejornal que não abre mão da emoção", um de seus motes. Dois exemplos do sequestro da Bahia, ontem no Aqui Agora:
- Maratona do medo!
- Trinta horas sob a mira de um revólver!
A trilha de música, a locução toda, as exclamações, que são reais, quando não escritas na tela, são o novo paradigma da televisão no Brasil.
Também as narrativas, de preferência com a câmera em movimento, a cobertura em "tempo real" -já incorporada pela Bandeirantes:
- O sequestro teve início ontem às onze da manhã, e o casal continua mantido como refém, aqui na clínica.
Aqui, aqui. A Globo também faz narrativa, com atenção aos momentos dramáticos:
- Às cinco da manhã, um sequestrador voltou à varanda com uma arma apontada para a cabeça do médico.
- A professora passou mal e foi obrigada a tomar remédio, ameaçada por uma arma.
- O clima é muito tenso. A clínica continua cercada por 60 policiais. As negociações foram suspensas. Há poucos instantes, um ladrão apareceu na varanda com a arma apontada para o pescoço da professora.
É um drama, como descreve a própria cobertura.
Aliás, "este novo drama com reféns na Bahia acontece duas semanas após o sequestro da menina Fernanda".
O segundo drama, em duas semanas. É como novela. "Não abre mão da emoção."
Ofensiva
É cedo para falar em Rush Limbaugh, o herói conservador no rádio dos Estados Unidos, mas Carlos Fernando, da CBN, não esteve lá muito longe ao comentar a nova campanha contra a Aids, ontem:
- A campanha é de um mau gosto impressionante. Eu não sei onde é que o ministro Jatene tem andado com a cabeça. É uma coisa impressionante. Ele agora vem com esta campanha discutível, de um mau gosto impressionante.
Aliás, o programa tanto fez que arranjou um bispo, em São Miguel Paulista, para também atacar a campanha, por ser "pobre e ofensiva".

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