São Paulo, sexta-feira, 15 de setembro de 1995 |
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'Eles foram lá para matar mesmo'
WILLIAM FRANÇA
É o próprio Araújo quem relata à Folha a ameaça que diz ter sofrido. Ele é integrante do grupo de sem-terra que ocupava ponte em Nova Xavantina. Ele passou por uma cirurgia de oito horas para retirar fragmentos da bala calibre 12 dos rins, intestino e pâncreas. Seu estado clínico é satisfatório. Depois de 12 horas na UTI do Hospital de Urgências de Goiânia, ele disse à Folha, ontem pela manhã, que pensa em deixar o Movimento dos Sem-Terra, mas não desiste de ter terra para plantar. Folha - Como foi o momento do tiroteio? Abadio Alves de Araújo - Eu estava dormindo em cima da ponte, e eles chegaram atacando, atirando. Era uma meia-noite. Folha - Eles quem? Araújo - O pessoal da Polícia Rodoviária Federal. Estava escuro, mas eu vi o uniforme deles. Folha - Quando o sr. ouviu os tiros, o que fez? Araújo - Eu corri e daí levei o tiro nas costas. O tiro me jogou a uns três metros. Folha - O sr. foi socorrido logo? Araújo - Não. Um deles queria me matar. Pisaram nas minhas costas e falaram: "Vamos matar ele". Pensei que ia explodir, mas não veio o tiro. Demoraram de 10 a 15 minutos para me socorrer. Folha - O sr. estava armado? Araújo - Estava. Era um revólver calibre 38, que estava numa pochete. Não cheguei a usar. Folha - Se pudesse, o sr. também teria atirado? Araújo - Acho que não tinha nem como. Tinha pouca arma, umas quatro armas. Folha - O que o sr. espera agora? Araújo - Queria que saísse a terra. E que eles (os que atiraram) fossem a conhecimento da Justiça. Eles foram lá para matar mesmo. Folha - O sr. vai continuar no Movimento dos Sem-Terra? Araújo - Acho que não. Não vale a pena. Em Mato Grosso, não tem lei. Vou ficar com minha mãe. Texto Anterior: PF vai apurar confronto no Mato Grosso Próximo Texto: Método para homem estéril pode afetar embrião Índice |
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