São Paulo, sexta-feira, 15 de setembro de 1995
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De cara nova

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Como prometido de início, foi "diferente".
Foi um programa do PT, não do Lula. Lula não deu as caras, ou quase. Apareceu no final, mas muito rapidamente. Sem mais campanha.
E mais, foi um programa dos artistas do PT, não dos líderes do PT. Líderes que no mais das vezes, quando surgiam, eram expostos em situações fora de eixo, desajeitadas.
(Com a imperiosa exceção, pelo poder acumulado, do presidente José Dirceu.)
Foi um programa de faces negras, morenas, em close, o que é algo muito diferente, na televisão do Brasil. Alguns dos depoimentos foram certamente mais efetivos do que os antigos discursos dos líderes:
- A gente queremos conquistar a terra. Se a gente tivesse terra para trabalhar, não estava aqui. Eu não sei qual é a posição que este senhor presidente quer fazer a reforma agrária. Faz reforma agrária como? A reforma agrária é nós descalços, com os pés no chão e nós tudo unido. Se não for isso, não faz.
Claro, não faltou comercial de administração. Por exemplo, do governo de Brasília. Por exemplo, do Espírito Santo, das prefeituras de Diadema, Porto Alegre.
Mas foi sempre rápido e logo surgia Pedro Cardoso, o comediante, com um contraponto, contra Lula, por exemplo:
- Eu quero que o Lula que se dane. Porque eu tô chamando é pro pau. Eu tô esperando o Lula aqui, para dar-lhe pau nele. Eu não gosto de Lula, não gosto de PT, não gosto de Aloizio Mercadante.
Mas é claro que gosta. E todo aquele humor, sem crítica, acaba transparecendo, não tem jeito, oficialismo.
Na forma, o programa certamente foi da maior liberdade. Um programa com belas imagens das ruas, do subúrbio, com a cara do Brasil.
Um programa capaz até de fazer o elogio do beijoqueiro, de entrevistar José Sarney, de brincar. Mas incapaz de tocar no conflito do PT, que é o que importa, para o futuro e para a sobrevivência do PT.
Daí sumirem com Fernando Henrique, que parecia não existir, e com o real, que recebeu uma crítica superficial e envergonhada. Daí sumirem com as tendências internas, parte do mesmo conflito.
Não passou de maquiagem.

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