São Paulo, domingo, 17 de setembro de 1995
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Protesto de Bráulios faz ministério suspender campanha contra Aids

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA; DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério da Saúde suspendeu sua nova campanha contra a Aids para retirar das peças publicitárias o nome próprio Bráulio, que era usado como sinônimo, em linguagem popular, de pênis.
A reação das pessoas que se chamam Bráulio, que ameaçavam recorrer à Justiça, levou o ministro Adib Jatene a tomar essa decisão.
A campanha começou a ser veiculada na TV na quinta-feira, custou R$ 4,5 milhões e era considerada a mais agressiva e ousada já feita pelo governo para conscientizar a população da necessidade de usar a camisinha.
Voltada para o público masculino de baixa renda, de 20 a 40 anos - o que mais resiste ao uso da camisinha, segundo pesquisas do ministério -, a campanha falava abertamente sobre sexo oral e anal.
Uma das peças para o rádio, que só deveria começar amanhã, era uma música cantada em ritmo de forró por Genival Lacerda e com o pênis apelidado de Bráulio.
O nome próprio foi escolhido a partir de uma pesquisa da agência Master de Curitiba.
A pesquisa mostrou que, além de Bráulio, o pênis também é chamado na gíria de Tonho, Anastácio, Bimbo, Tonhão, Ricardão, Petrônio e Bastião entre outros.
Segundo a assessoria de imprensa do ministério, Bráulio foi o escolhido por ser, entre os nomes populares, “o de maior sonoridade e que mais reforçava a sensação de vigor e masculinidade”.
Em dois dias, segundo a assessoria, 34 Bráulios ligaram para o Ministério da Saúde reclamando do uso do nome na campanha.
Em nota divulgada ontem, o ministério diz que a campanha era “objeto de restrições de pessoas que se sentiram atingidas”.
Segundo a assessoria de imprensa, as agências de publicidade vão refazer a campanha sem custos adicionais para o ministério.
A idéia é manter o perfil popular da campanha, isto é, achar um apelido para o pênis que não seja um nome próprio.
Além do “Melô do Bráulio”, no rádio, que recomendava o uso da camisinha sempre que ele (pênis) fosse “brincar lá trás” (praticar sexo anal), a campanha ensinava a colocar o preservativo - aparecia o ator Emílio Ribas conversando com um pênis (Bráulio).
A suspensão agradou os Bráulios. O executivo Bráulio Marques da Cruz diz que até o lançamento da campanha não havia sido importunado. “Mas nos últimos dias perdi um tempão no telefone ouvindo brincadeiras dos amigos.”
O advogado Bráulio Silva, 36, não aguentou as gozações e “fugiu” para um sítio no interior do estado, disse sua mãe, que preferiu não se identificar.

* Colaborou a Reportagem Local.

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