São Paulo, domingo, 17 de setembro de 1995
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Tatuagem a ferro quente vira moda em NY

DANIELA FALCÃO
DE NOVA YORK

O norte-americano Ricky Calcal, 21, tem 20 piercings espalhados pelo corpo, cinco tatuagens e um branding no braço direito.
Assumidamente vaidoso, Calcal faz parte de um grupo ainda pequeno, mas que vem crescendo em Nova York: os adeptos do branding, um tipo de tatuagem em que se queima a pele para fazer os desenhos (leia texto ao lado).
"A gente quer sempre estar diferente, com algum detalhe que dê identidade própria. Acho que fiz o branding por isso. Dou muita importância para minha aparência", disse Calcal em entrevista à Folha.
Filho de portugueses, ele trabalha numa das maiores lojas de tatuagem de Nova York, a "Venus Tattoo", no East Village.
"Já tive 75 piercings, mas resolvi deixar só os que gostava mais", conta Calcal que fez a primeira tatuagem um mês depois do primeiro piercing, quando tinha apenas 17 anos.
"O cara que me tatuou estava tão doidão que o resultado foi um desastre. Mas eu não me incomodei, foi minha estréia."
Apesar de jurar que nunca se arrependeu de ter feito as alegorias que carrega no seu prórpio corpo, Calcal diz que foi "desgastante" convencer seus pais a aceitar a vaidade esquisita do filho.
“Agora eles já se acostumaram. Mas quando fiz meu primeiro piercing foi um choque. Eu estava todo feliz, achando lindo. Mas eles não viram nada de bonito. Foi bem chato”, recorda.
Dor
Calcal diz que é muito difícil determinar qual das “alegorias” causa mais dor. Mas ele acha que o branding, se for feita uma comparação é o que mais dói.
“É como comparar o gosto de maçã com laranja. Ambas são frutas, mas o sabor é diferente. No meu caso, o que mais doeu foi o branding porque durou quatro horas”, diz.
Para Calcal, depois do branding, a pior dor é a da tatuagem. “O piercing é o que dói menos, mas leva meses para sarar. Por isso é coisa que incomoda mais”, afirma.
Na loja em que Calcal trabalha, todos os seus colegas têm piercings e tatuagens. Mas, até agora, ele foi o único que se arriscou a fazer branding.
“Vem sempre alguém aqui ver como fica. Perguntam quanto tempo leva, se a dor é muito forte. E vão embora na dúvida. Não é uma decisão fácil”.
Vaidade
Calcal diz que não sabe explicar por que começou a desenhar o corpo. “Acho que é vaidade mesmo. Tem gente que passa horas fazendo ginástica. Eu prefiro ficar cuidando dos meus piercings.”
Por ter tantas alegorias penduradas, Calcal gasta pelo menos uma hora por dia desinfetando os furos e cuidando das novas tatuagens.
“Dá trabalho, mas vale a pena. Acho que um dia vou cansar. Aí tiro os piercings”.
“As tatuagens e o branding são para sempre. Ainda assim, não me arrependo. Acho saudável gostar do corpo da gente. E cada um mostra isso de um jeito”, filosofa.

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