São Paulo, domingo, 17 de setembro de 1995
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Grupo de vítimas de incesto busca superar traumas

ANDRÉ MUGGIATI
DA REPORTAGEM LOCAL

Brasil já tem 5 grupos de vítimas do incesto
'Sobreviventes anônimos' surgiram em 92 no Rio e buscam superar problemas na vida adulta como a impotência sexual
Os SIAs (Sobreviventes do Incesto Anônimos) -grupos de pessoas que se reúnem para falar sobre experiências de agressão sexual sofridas na infância- estão se espalhando pelo Brasil.
O primeiro deles surgiu em 81, na cidade de Baltimore (EUA). No Brasil, o grupo pioneiro apareceu no Rio, em 92, e foi seguido pelo aparecimento de mais quatro, vinculados à matriz americana: em São Paulo (capital), em Araras (SP), em Belo Horizonte (MG) e em São Luís (MA) (leia abaixo os endereços para correspondência).
Anna (os nomes das vítimas de abuso são fictícios) é a fundadora, com outras duas mulheres, do grupo de Baltimore. De acordo ela, há mais de mil grupos em 15 países.
O reflexo na vida adulta do abuso infantil pode se dar de várias maneiras. A vítima pode sofrer de impotência, compulsão sexual ou depressão. "Eu me sentia anulada como pessoa", diz Lúcia, que organizou o SIA de São Paulo.
Ela afirma que pesquisas mostram que 1 em cada 3 meninas e 1 em cada 5 meninos dos EUA sofrem abuso sexual. "Não quer dizer que 1 em cada 3 pais seja abusador. Podem ser outros parentes. Um único abusador pode agredir a centenas de crianças", afirma.
Para Cláudia, 40, também de São Paulo, a maior parte das pessoas que sofreram abuso não conta o que aconteceu. "Há um tabu nas famílias. Quando a criança conta o que aconteceu, ninguém acredita. Ela então se cala pela vida inteira", afirma. Segundo Cláudia, pesquisas do SIA de Baltimore mostram que 80% dos abusadores sofreram abuso durante a infância.
As reuniões do SIA são divididas em duas partes. Na primeira, lêem folhetos com literatura inspirada em psicologia. Na parte seguinte da reunião, os membros compartilham as experiências.
As reuniões são fechadas e exclusivas para os membros. Para trazer as memórias da infância à tona, as sobreviventes utilizam ursinhos de pelúcia. O símbolo do SIA é um pequenino urso panda.

Para entrar em contato com os SIAs escreva para caixa postal 11.766, Rio de Janeiro (RJ), CEP 22022-970; caixa postal 45.446, São Paulo (SP), CEP 13600-000; caixa postal 132, Araras (SP), CEP 13600-000; caixa postal 1.550, Belo Horizonte (MG), CEP 30161-970; e caixa postal 562, São Luís (MA), CEP 65010-970.

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