São Paulo, domingo, 17 de setembro de 1995
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'Tudo girava em torno deles'

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Jane Cristina Franco de Lima, 27, diz que desde menina foi "viciada" em relacionamentos problemáticos. "Então dava tudo errado", afirma.
Ela já viveu com um alcoólatra e um drogado. Os outros eram desempregados ou desajustados.
"Eu funcionava como uma parabólica capaz de só captar pessoas extremamente problemáticas. Sabia que ia me enfiar num buraco, mas achava que poderia salvá-los."
Durante anos, Jane achou que era apenas coincidência, ou "uma forma de contrariar a sociedade". "Se as mulheres procuravam namorar homens mais altos, eu procurava os baixinhos, os estranhos, os caladões, os complicados. Fui fazer serviço social achando que ia consertar o mundo."
Há seis meses, em busca de saídas, Jane foi a uma terapeuta e passou a frequentar dois grupos, o das mulheres que amam demais e o de dependentes de amor e sexo.
"Foi então que descobri que buscava homens-problemas como uma forma de só pensar neles. Eu era uma dependente afetiva, não conseguia ficar sem os homens e suas complicações. Tudo girava em torno deles."
Essa dependência compulsiva não a deixava estudar nem trabalhar. "A busca de homens era uma espécie de buraco afetivo que ficou da minha infância."
Há três meses Jane está sem namorado. "Desde os meus 12 anos, nunca passei tanto tempo sem homens. Estou dedicando ao trabalho e a novos projetos o tempo que gastava com eles."
Novos relacionamentos serão escolhidos a dedo. "Nada de problemas", afirma. Até o ano passado, seus companheiros passavam mais tempo com os amigos de bar do que com ela.
"Eu arrumava trabalho para eles, comprava roupas, tirava documentos, programava passeios. Eu mesma não existia."
Um dos companheiros era feirante e alcoólatra. Jane levantava de madrugada para levá-lo à Ceagesp e passava o dia cuidando de suas contas. "Tudo isso só estou percebendo agora", diz.
(AB)

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