São Paulo, domingo, 17 de setembro de 1995
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Jô Soares responde a onze perguntas e meia

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Por "culpa" de "O Xangô de Baker Street", seu primeiro romance, que será lançado na próxima quarta-feira, o humorista Jô Soares deixa por um momento de ser o entrevistador mais admirado da TV brasileira para ser o entrevistado da semana.
Amanhã, às 22h30, Jô será entrevistado no "Roda Viva", na TV Cultura. Na terça, no "Jô Soares Onze e Meia", o humorista troca de lugar com o escritor Fernando Morais e responde sobre a trama de seu livro na poltrona reservada às mais de 4.000 pessoas que já passaram pelo programa.
A entrevista que se segue foi realizada, a pedido da Folha , por 12 personalidades. Como foi solicitado ao escritor Wally Salomão que fizesse uma meia pergunta, chegou-se a um total de onze perguntas e meia a Jô Soares.
A entrevista foi feita na última quinta-feira à noite, a caminho de São Leopoldo (RS), onde Jô apresentou seu show de humor, "Um Gordo em Concerto", na Sociedade Orpheu -um clube fundado no século passado, assim como a trama de seu romance.
Mesmo mancando, por obra de uma ciática (dor no nervo ciático), Jô não perdeu o humor no Sul nem quando um fã chato pediu: "Ô gordo, conta uma piada, aí!". A seguir, a entrevista:

1. Massimo Ferrari - Você vai fazer um jantar inesquecível para homenagear seus heróis, figuras notáveis da história e as pessoas mais marcantes da sua vida. Quem você convidaria, como as disporia na mesa e qual seria o menu desse jantar histórico?
Jô Soares - Primeira coisa: na mesa não haveria heróis. Os heróis só continuam heróis enquanto você não cria intimidade com eles. Em volta dessa mesa colocaria pessoas que admiro muito e pessoas muito importantes na minha vida.
Convidaria Cacilda Becker (1921-1969, atriz), Procópio Ferreira (1898-1979, ator e diretor), Jaime Costa (1897-1967, ator) e Monteiro Lobato (1882-1948, escritor). Também chamaria meu pai e minha mãe, Tereza (minha primeira mulher) e Rafael (meu filho, se possível sentado entre dois músicos). Na cabeceira, colocaria a Flávia, minha mulher e grande incentivadora. Prefiro não falar dos amigos que chamaria, porque não caberiam numa mesa.
Eu ficaria em pé, olhando e circulando. O menu eu deixaria a cargo do Massimo, mas tinha que ter muita massa e cabrito.
2. Ugo Giorgetti - Sei que você gosta muito da Nouvelle Vague. Qual o filme que você gostaria de ter dirigido daquela fase?
Jô Soares - "Pierrot, le Fou" (1965), de Jean-Luc Godard. É um filme genial, um retrato de toda uma época. Há algumas coisas muito marcantes nesse filme. Primeiro, Godard pega Samuel Fuller, um diretor norte-americano, e pede uma definição sobre o que é cinema. É sensacional. Ele responde que "cinema é aventura, amor..." e termina dizendo: "Em uma palavra, emoção". Depois, Jean-Paul Belmondo se enrola todo em dinamite e se estoura.
3. Luiz Mott - O fato de você assumir o seu lado feminino, usando brinco, beijando seus amigos em público, falando com simpatia do homossexualismo, nunca criou problemas, discriminação ou censura entre os seus colegas, patrões ou com suas mulheres?
Jô Soares - Não que eu meu lembre. Muitas vezes fui rotulado dessa ou daquela maneira, mas nunca tive problemas por causa disso. Até brinco com isso no meu show. Ser rotulado assim faz parte da biografia de qualquer artista que não seja preconceituoso. As pessoas adoram rotular de uma maneira ou de outra.
4. João Gordo - Você não chegou a pensar que Sherlock Holmes, em seu livro, pudesse ser corrompido para não resolver o crime que investiga, mantendo a tradição de corrupção do Brasil?
Jô Soares - (gargalhadas) Isso provavelmente teria acontecido se ele estivesse investigando um outro tipo de crime. Como eu mostro no livro, na época já havia corrupção em várias áreas no Brasil. Por acaso, não havia interesses maiores para que os crimes que Holmes investigava no Brasil não fossem solucionados.
5. Marcelo Tas - Quais são hoje os tesões da sua vida numa escala crescente de libido? E qual o lugar que a TV ocupa nesse "grid" de largada?
Jô Soares - O primeiro tesão da minha vida é a Flávia, minha mulher, evidentemente. Depois, empatados, leitura e cinema. Depois, televisão e teatro, coladinhos, na mesma posição.
Escrever esse livro foi uma experiência que chegou muito perto da TV e do teatro. E, depois de tudo isso, comer, tomar refrigerante dietético e fumar charuto.
6. Pedro Haidar - O que é mais difícil: ser um ídolo das massas ou ser um fã das massas?
Jô Soares - (risos) É muito mais gostoso ser um ídolo das massas. É terrível ser um fã das massas, especificamente de ravióli, "tagliatelli", talharim etc.

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