São Paulo, domingo, 17 de setembro de 1995
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Compulsivos falam para controlar o desejo

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O administrador de empresas Ricardo, 29, é um compulsivo por sexo. Não escolhe lugar nem hora para transar. Agarrava a namorada no elevador, no cinema, dentro do carro, em banheiro de avião.
Traía namoradas com a primeira mulher que lhe lançasse um olhar ou cruzasse seu caminho com uma saia mais curta. Se estava sozinho, se masturbava, compulsivamente.
A namorada era a assistente financeira Patrícia, 26. Vivia aterrorizada com o momento em que seria agarrada por Ricardo.
"Era um relacionamento tenso, mas eu não conseguia deixar de pensar nele. Vivia telefonando, comprando presentes, só queria agradar", afirma.
Hoje, os dois participam do Dasa, o grupo Dependentes de Amor e Sexo Anônimos. A relação terminou e eles frequentam reuniões em dias diferentes: Ricardo por compulsão sexual, Patrícia por dependência afetiva.
"Ele me fazia muito mal, mas eu morria de medo de perdê-lo. Não conseguia me concentrar no trabalho", diz Patrícia.
O Dasa é aberto a homens e mulheres que não conseguem estabelecer limites nos relacionamentos sexuais e afetivos. A maioria dos homens são compulsivos por relações sexuais e se masturbam várias vezes por dia.
No grupo, há homens que viraram alcoólatras ou usuários de drogas. Iam para a cama com a primeira mulher que encontravam, prostitutas ou não. Alguns pegaram o vírus da Aids, muitos destruíram o casamento.
As mulheres, com mais frequência, são dependentes afetivas. Há também as "anoréxicas", aquelas que não conseguem se relacionar de forma alguma, e as compulsivas sexuais.
Algumas perderam a guarda dos filhos na Justiça porque se sentiam compelidas a procurar homens diferentes todos os dias.
"O grupo me trouxe de volta a paz que eu não tinha", afirma Patrícia. Ricardo -como é prática no grupo- relata a cada semana quantos dias ficou sem se masturbar ou manter relações.
Se cai no erro, relata os "deslizes". Se obtém sucesso, é aplaudido.

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