São Paulo, domingo, 17 de setembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Palmeiras e Corinthians jogam 'protegidos'

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Palmeiras e Corinthians se reencontram nesta noite, pela primeira vez desde as eletrizantes finais do Paulista, sob uma capa de proteção tecida com extremo cuidado pelas autoridades e pelos meios de comunicação -com as bênçãos do incansável Betinho-, que resolveram batizar o evento de "o jogo da paz".
Uma paz artificial, engendrada, produzida mesmo, para ficarmos com uma expressão da moda. Mas uma expectativa de que, a partir desta noite, recomece a ser cultivado o salutar hábito de os torcedores se confraternizarem nos estádios.
É bem verdade que o horário, a TV e a chegada de uma frente fria haverão de conspirar contra essa experiência, primeiro passo na direção de testarmos se o futebol, nos estádios, sobrevive ao boicote das torcidas uniformizadas.
Há, na promoção, um certo tom de nostalgia, à parte a extrema atualidade do gesto solidário de trocar os ingressos por alimento para esta imensa população brasileira de esfaimados, a maior de todas as usinas de violência, dentro ou fora dos campos de futebol. É aquela visão meio idílica de que se, antigamente (e o termo aqui perde-se na elasticidade de um tempo indefinido), não havia as tais uniformizadas e as torcidas compartilhavam os mesmos espaços, por que não resgatar esse clima hoje em dia?
Simplesmente porque os tempos mudaram e vivemos numa tipo de sociedade que dá ênfase demasiada ao consumo e estimula a competição ao paroxismo.
Ainda outra noite, num papo com o músico e publicitário Zé Rodrix, que há muito abdicou de acompanhar o futebol, ele me advertia para um elemento novo na estratégia da propaganda: os anúncios de televisão não mais sugerem a compra de um produto por sua excelência. A idéia de compra foi substituída pelo conceito sutil de que está tudo simplesmente à disposição de qualquer um, o que sabemos ser uma inverdade. Mas, para o jovem desnutrido em todos os sentidos, sobretudo o do sentido crítico, o que passa é a certeza de que o paraíso televisivo está ao alcance de suas mãos. Como não está, as mãos se crispam e atingem o próximo sem mesmo saber por quê.
Quanto à concepção de que só o que importa é a vitória, não interessa como, esta seduz a todos -do mais sofisticado membro da elite ao mais tosco miserável.
Em todo caso, quem sabe ao menos nas arquibancadas dos estádios de futebol possamos encontrar a paz da igualdade entre desiguais, o que será, sem dúvida, uma sugestão poderosa de que o paraíso existe. Aqui, pelo menos.

O Palmeiras, nem que seja por meio tempo, poderá ter Cafu pela lateral direita e Rivaldo no meio, ao lado de Edílson, Mancuso e Amaral.
Isso poderá fazer a diferença no clássico desta noite, que nada tem a ver com as finais do Paulista, embora ambos tenham algo em comum: foram recuperados para a competição pelo mesmo adversário -o badalado, mas frustrado, Flamengo.

Texto Anterior: Palmeiras e Corinthians jogam pela paz
Próximo Texto: O melhor
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.