São Paulo, domingo, 17 de setembro de 1995
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O melhor

SÍLVIO LANCELLOTTI

Com a exceção óbvia dos fanáticos do apocalipse, qualquer jornalista da minha geração dirá, sem dúvida, que o Santos de 58 a 63 foi sossegadamente superior ao Real Madrid de Alfredo Di Stefano, precisamente de 55 a 60.
Inúmeras razões me levam a responder, assim tão desabusadamente, ao desafio proposto pelo jovem capo Matinas Suzuki Jr. nas suas colunas desta semana. Eis a mais forte delas: meninos, eu vi o Santos e o Real Madrid.
O Santos, presenciei pessoalmente, nos gramados, não só via TV. Embora torcedor de outro clube, perseguia, por prazer, o time de Luís Alonso, o Lula, de Presidente Prudente até o Maracanã.
Aquele Real, eu ainda testemunho através de cassetes de pelejas antigas que mantenho em minha coleção, em particular sequências de fato majestosas com Di Stefano e com o húngaro Ferenc Puskas.
Outros dados, porém, reforçam a minha segurança.
O Real não disputava mais de 50 pelejas por ano. O Santos participava de 80 a 90, numa eterna sucessão internacional de excursões caça-dólares.
Enquanto os astros do Real repousavam, os do Santos esbagaçavam os ossos e os músculos em exibições inolvidáveis em campos carecas de América Latina, África, Ásia. Moravam em aviões.
Além disso, existem meios de se compararem os atletas de cada escalação. No departamento dos arqueiros, por exemplo, o Santos dispunha de Gilmar e de Laércio Milani, craques de seleção. O Real do irregular Alonso só ostentou um pegador mais firme a partir de 58: o bom argentino Domínguez.
Apenas na sua bequeira o Real ganhava do Santos. Tinha zagueiros excelentes: Marquitos, Zarraga, Lesmes, Pachim -e, principalmente, o majestoso uruguaio Santamaría, posteriormente naturalizado. Apesar de Mauro Ramos de Oliveira no miolo, o Santos exibia meros utilitários, como Fiotti, Getúlio, Dalmo e Ismael.
No meio, não há como antepor Muñoz, Mateos, Santisteban, Vidal, Olsen e Molowny às personalidades de Zito, Mengálvio, Lima e Jair da Rosa Pinto. Nos cinco anos de apogeu, o Real só teve dois grandes meias: Rial e Del Sol.
Enfim, no ataque, por maiores que se mostrassem os talentos do brasileiro Canário, de Joseito, de Gento, do francês Raymond Kopa, de Puskas e Di Stefano, além de Dorval, Pagão, Coutinho, Almir e Pepe, o Santos tinha Pelé.
Nenhum time pode ser melhor do que o que tinha Pelé. Ponto.

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