São Paulo, domingo, 17 de setembro de 1995
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Cientistas descobrem novo estado da matéria

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

A 5 de junho último, Eic A. Cornell, do Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia dos EUA, e Carl E. Wieman, da Universidade do Colorado, ambos em Boulder (EUA), conseguiram criar um novo estado da matéria, previsto por Albert Einstein há uns 70 anos.
Isso foi realizado pelo resfriamento de átomos de rubídio a temperatura muito próxima do zero absoluto.
Nessas condições, a multidão de átomos se comportou como um átomo só, um "superátomo.
Baseado em trabalhos do físico indiano Satyendra Nath Bose, Einstein concebeu a noção do que veio a se chamar de condensado Bose-Einstein (BEC), que é, na realidade, um gás tão frio e denso (a 180 nanokelvins, bilionésimos de um grau acima do zero absoluto), que seus átomos praticamente param.
Naquela época, acabara de firmar-se a idéia de que os átomos e outras partículas elementares tanto podem ser encarados como partículas ou como ondas probabilísticas.
Einstein postulou que, à medida que os átomos se aproximam do zero absoluto (-273oC), as ondas a eles correspondentes começam a se espalhar e acabam por imbricar umas nas outras, ocorrendo então a fusão dos átomos num só, num mesmo estado quântico.
É dificílimo levar os átomos a temperatura de bilionésimo de grau acima do zero absoluto. Assim, a conquista dos físicos do Colorado representou vitória científica e tecnológica ao mesmo tempo.
O trabalho do grupo foi publicado em "Science ( 269, 198) com fotografias (coloridas) do dispositivo usado e das imagens obtidas no vídeo do computador.
Até mesmo a mais promissora estratégia de resfriamento dos tempos recentes foi entravada por um pequeno vazamento de átomos frios do centro da "armadilha magnética montada para o resfriamento.
O físicos conseguiram vedar o vazamento pelo simples artifício de girar o campo magnético. Tornou-se possível, então, reter no meio do caminho os átomos superfrios, em temperatura correspondente ao BEC, e procurar, nesse meio, a formação do suposto e tão procurado BEC.
Outros grupos especializados estão empenhados na mesma tarefa, porém o de Boulder passou à frente de todos.
A técnica de Cornell e Wieman fundamenta-se no resfriamento por laser de átomos de rubídio, que são bombardeados e quase paralisados.
A seguir, os átomos vão para a armadilha magnética, que permite o escapamento dos átomos mais rápidos, deixando para trás os mais frios.
Vem finalmente a rotação do campo magnético (o pulo do gato) para evitar o efetivo escapamento dos poucos átomos mais frios que estavam fugindo do sistema.
Ao contrário de tantas grandes conquistas da física moderna, a que ocorreu no Colorado custou relativamente barato (US$ 50 mil de aparelhagem) e usou instrumentos relativamente muito pequenos.
No momento, são poucas as aplicações práticas da realização do BEC, mas toda inovação científica logo encontra número crescente dessas aplicações.

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