São Paulo, domingo, 17 de setembro de 1995 |
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STYRON VÊ A INTOLERÂNCIA
WILLIAM STYRON
A única surpresa está na natureza da escola: ao longo das últimas décadas, o livro foi proibido e banido inúmeras vezes das estantes das bibliotecas. Há alguns anos, John H. Wallace, pedagogo negro em Fairfax (Virginia), vem promovendo campanhas de proteção à juventude, insistindo que Huckleberry Finn seja retirado das bibliotecas escolares; também publicou uma obra que deve certamente entrar para os anais da censura: uma versão do livro em que a palavra "negro" é expurgada. A cruzada de Wallace -que descreveu o objeto de seu ódio como "o exemplo mais grotesco de lixo racista que já se escreveu"- é um exemplo extremo da animosidade que se aglutinou ao redor do romance. "Huckleberry Finn" revela o espírito de um autor cheio de idéias ambíguas sobre a diferença de raças. O que admira é que a educação e a experiência adulta de Twain (incluindo uma rápida passagem pelo exército confederado) tenham-no deixado com tão poucas marcas de fanatismo. Muito embora a maioria dos seus milhões de leitores (muitos deles de raça negra: Ralph Ellison, que escreveu com admiração sobre como Twain, compreende a complexidade da escravidão e percebe a humanidade essencial de Jim) não tenha encontrado racismo algum no livro, "Huck Finn" jamais conseguiu escapar ao turbilhão de discórdia -e provavelmente jamais conseguirá, pelo menos enquanto seus encantadores protagonistas, com seus sentimentos ambíguos e imprevisíveis, persistirem como símbolos de nossa confusão racial. Tradução de SAMUEL TITAN JR. Texto Anterior: JIM E O MORTO Próximo Texto: JIM AND THE DEAD MAN Índice |
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