São Paulo, domingo, 17 de setembro de 1995
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Greenpeace está em crise, diz líder

OTÁVIO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A AMSTERDÃ

Thilo Bode, 48, que assumiu a função de diretor-executivo do Greenpeace Internacional no último dia 4, é o oposto do que se espera do líder do mais famoso grupo ambientalista do mundo.
Nascido na Baviera, sul da Alemanha, Bode tem cabelos grisalhos e fala devagar e suavemente, apesar do forte sotaque alemão.
Formado em sociologia e economia pelas universidades de Munique e de Regensberg (Alemanha), Bode trabalhou durante 11 anos em países do Terceiro Mundo, entre eles a Argentina e a Nigéria, como planejador de projetos de desenvolvimento.
Em 1989, assumiu a direção-executiva do Greenpeace na Alemanha e, seis anos depois, chegou ao cargo mais importante da entidade.
Há cerca de um mês, Bode foi preso e expulso da China durante manifestação contra testes nucleares na praça da Paz Celestial, em Pequim. No entanto, diz que não ousaria ser um ativista. Sua função será "botar ordem na casa".
Apesar da repercussão mundial das últimas duas campanhas do Greenpeace -contra o afundamento da plataforma de petróleo Brent Spar no mar do Norte e contra os testes nucleares franceses no Pacífico Sul-, a organização está em crise (leia texto à pág. 24).
Também é seu objetivo tornar o Greenpeace mais ativo em países menos desenvolvidos. Nos próximos dias 6 e 7 de outubro, Bode estará no Rio de Janeiro, onde se encontrará com diretores do Greenpeace na América Latina.
"Somos uma organização de pessoas ricas, acostumada a trabalhar em democracias ocidentais. Temos de achar uma maneira de atuar em países onde a relação meio ambiente, desenvolvimento e pobreza é mais complexa."
Em entrevista exclusiva à Folha, realizada na última terça-feira na sede do Greenpeace Internacional, em Amsterdã (Holanda), Bode revelou os próximos alvos do Greenpeace e deu a receita de uma campanha bem-sucedida.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Folha - Durante a atual campanha no Pacífico Sul, o Greenpeace já teve dois barcos, um helicóptero, dois aviões e diversos botes apreendidos pela França. A "força naval" do Greenpeace está em crise? Até quando será possível continuar?
Thilo Bode - Em primeiro lugar, rejeito o termo "força naval" porque não somos uma força militar e atuamos de forma não-violenta. Mas é difícil dizer até quando poderemos prosseguir.
A apreensão desses equipamentos foi um golpe duro e não podemos nos arriscar a ter todos os nossos barcos apreendidos. No momento, estamos disputando uma ação legal contra a França com o objetivo de tê-los de volta.
Folha - A explosão de violência no Taiti ajudou a campanha contra os testes nucleares franceses?
Bode - A violência mostrou ao mundo que, quando governos tomam decisões sozinhos, resistências surgem de todos os lados.
Nesse sentido, ajudou a criar uma imagem negativa da França. Mas a campanha contra os testes e a luta pela independência nacional são duas coisas diferentes.
Folha - O Greenpeace é contrário ao domínio da França sobre a Polinésia?
Bode - Somos contrários, mas devemos ficar de fora de conflitos internos. Somos uma organização ambientalista e, para termos credibilidade, temos que nos limitar a questões ecológicas.

Continua à pág. 24.

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