São Paulo, domingo, 17 de setembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Democrata é favorito na eleição legislativa em Hong Kong

RAYMOND WHITAKER
EM HONG KONG

King's Road, em Hong Kong, é uma rua comercial, como sua homônima em Londres, exceto pelos bondes que trafegam na faixa central e pelos cartazes em neon com seis andares de altura.
Martin Lee olha os outdoors da campanha eleitoral de sua adversária, uma jovem advogada de nome Choy So-Yuk. Ele a descreve como "um ninguém político. "A gerência é a favor dos comunistas, por isso meus cartazes vivem sumindo", diz ele.
Um assessor lhe entrega um capacete de operário. "Daqui a pouco vamos fazer uma carreata, mas tem gente que atira garrafas."
É difícil imaginar por que um polido advogado de mais de 50 anos possa inspirar tanto ódio, mas o governo chinês o considera o homem mais perigoso de Hong Kong. Pequim já deixou claro que, se Lee foi reeleito para o Conselho Legislativo de Hong Kong hoje, como parece quase certo, será derrubado assim que a China assumir o controle de Hong Kong, em 97.
Martin Lee lidera o Partido Democrata, que chefiou a oposição à China após o massacre da praça Tiananmen (Paz Celestial), em 1989, e aquele que será, ao que tudo indica, o maior grupo político no legislativo, quando os resultados forem anunciados, amanhã.
Em 1991, quando Hong Kong votou pela primeira vez em mais de 150 anos de história colonial, Lee recebeu mais votos do que qualquer outro. Embora o lobby pró-China tenha poucas chances de derrotá-lo hoje, centenas de trabalhadores foram mobilizados em seu distrito para deixar os resultados um pouco mais apertados.
North Point, bairro classe média no leste da ilha de Hong Kong. Acompanhado por seu grupo de assistentes, Martin Lee entra num labiríntico edifício de 25 andares.
"Território inimigo. A maior parte dessas pessoas trabalha para empresas de proprietários chineses. Seus patrões as mandam votar contra mim", diz Lee. Ele passeia pelos corredores, entregando folhetos através das grades.
Cinco andares depois, cada um com 37 apartamentos, Lee está animado: apenas um morador lhe disse: "Não tenho tempo para falar com o senhor". Mas, à medida que o dia 1º de julho de 1997 se aproxima, o número de pessoas dispostas a correr o risco de desagradar à China fica menor.
O Partido Democrata tem candidatos a apenas 15 das vagas diretamente eleitas no Conselho Legislativo. Pequim prefere os métodos indiretos pelos quais serão decididas as outras 40 -são mais fáceis de manipular. Foi a tentativa do governador Chris Patten de abrir à eleição direta as outras 40 vagas que provocou o rompimento quase completo de relações com a China.
Se o governo chinês cumprir o que prometeu, o Conselho inteiro será substituído por um "legislativo provisório" que poderá ser indicado já no início do ano que vem. Nesse caso, Lee e seus colegas serão cartas fora do baralho bem antes de 1997.

Tradução de Clara Allain

Texto Anterior: TUDO SOBRE O GREENPEACE
Próximo Texto: Beijinhos, beijinhos, tchau, tchau
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.