São Paulo, domingo, 17 de setembro de 1995
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o futuro por um fio

HELOISA HELVECIA; PATRICIA CARTA; LÚCIA CRISTINA BARROS

O futuro é elástico. Os tecidos inventados pelo homem evoluem e se moldam às manias do momento. Cada vez mais maleáveis, podem resistir ao puxa-e-volta das décadas, emprestando às roupas o aspecto ditado pela moda.
A evolução das fibras artificiais está mais para revolução. O arrepiante poliéster -tecido que surgiu na década de 70, imitando o algodão- deu agora na microfibra. O fio ganha centenas de filamentos, por milagre tecnológico. Resultado: pano mais macio, com melhor transpiração.
Se for o caso, a microfibra imita a seda. Com uma vistosa diferença: um quilo de fio de seda custa US$ 70 e um quilo de fio de multifibra custa US$ 7, informa Luiz Mario Kramer, diretor comercial da Fairway, empresa que resultou da união entre Rhodia e Hoescht do Brasil.
A Rhodia, por sinal, e a DuPont, foram as que começaram toda essa trama no Brasil, nos anos 60. E os produtos sintéticos foram os que orientaram a indústria têxtil nacional para o atual patamar de pesquisa e desenvolvimento, explica Sandra Farina, mestranda em marketing para a comunicação, na USP.
Courrèges, a Lua Nos 60, o mundo se deslumbrava com tecnologia. Era natural que o artificial virasse moda. "Pela primeira vez, um estilista de alta-costura criava a 'young culture' e lançava a coleção 'moon girl'", localiza a empresária Costanza Pascolato, da tecelagem Santa Constância.
Courrrèges, a Lua
O estilista era Courrèges. A coleção trazia botas, geometria e o "sky" -tecido natural com camada de vinil.
Da cinta ao cetim Foi nesse panorama que a lycra chegou por aqui. O nome lycra é a marca da DuPont para o fio de elastano, mas pegou como gilete. Há 22 anos, o então tecido do sufoco entrava no mercado via produtos medicinais, como cintas pós-parto.
Aquela lycra é parente distante desta que estica até seis vezes o seu tamanho e volta ao normal. O fio afinou. Nove mil metros de fio de elastano já pesaram um quilo e 120 gramas. Hoje, pesam sete gramas.
Esse fio é hoje um terço mais leve do que um fio de cabelo. "Quanto mais leve e mais fino, menos aperto", diz Mônica Orciolli, gerente de produto da DuPont. Além de comprimir menos, a lycra agora até aumenta o conforto de veludos, sedas e cetins, quando associada a esses em pequenas porcentagens.
Esquenta-esfria
As misturas inusitadas de texturas e os preços mais acessíveis fazem com que as confecções reduzam a participação dos naturais nas suas criações.
Tufi Duek, da Forum (grife que usa algo em torno de 65% de fibras naturais para 35% de sintéticas), exalta o toque e a aparência dos panos tecnológicos, mas quer mais.
Quer "um tecido que se adapte melhor ao clima de um país como o Brasil, que às vezes tem as quatro estações no mesmo dia".
Liana Padilha, a estilista da Sucumbe a Cólera, marca que em 1994 arrancou confetes de Marie Rukie (a papisa do estúdio Berçot de Paris), fez sua opção pelos artificiais em 1987, quando abriu a confecção. Motivos: "Queria cores fortes, de escola de samba. Comecei com helanca (lycra texturizada). Era um tecido barato e tido como brega". Liana, que faz uma moda adolescente, "feita para suar", também sonha com um "tecido elástico que seja fresco como o algodão".
Já é realidade. O coolmax, microfibra derivada do poliéster, é a última palavra em sintético. Vista no microscópio, a fibra tem fios ocos que fazem com que o suor do corpo passe pelo tecido e evapore.
calcanhar-de-aquiles
O suor é mesmo o calcanhar-de-aquiles dos sintéticos. Segundo André de Oliveira, gerente para a área de poliéster da DuPont, o coolmax tem secagem e resfriamento 40% mais rápidos que os dos outros tecidos artificiais. É muito mais leve também. Começa a ser aplicado em roupas esportivas e deve chegar às confecções dentro de pouco tempo.
"Com tanta evolução," os prós superam os contras, diz Patrícia

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