São Paulo, domingo, 17 de setembro de 1995
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Não há justiça no caso Simpson

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Há 34 semanas telespectadores norte-americanos assistem, sem desgrudar da telinha, ao julgamento do ex-astro do esporte, O.J. Simpson, acusado de matar a mulher e um amigo dela.
Algo anda errado na América. Se o chamado "julgamento do século" aumentou em mais de 300% a audiência da CNN, por exemplo, por que o caso Simpson está fazendo os americanos mudarem de idéia a respeito da transmissão de julgamentos ao vivo pela TV?
Nos EUA, a exibição pública de julgamentos é uma tradição. Além de ser um direito perpetrado pela pena de Thomas Jefferson, a prerrogativa de qualquer cidadão verificar pessoalmente como a Justiça é praticada também é uma forma gringa de diversão.
Surgiu daí o canal de TV paga Court TV, que transmite exclusivamente julgamentos -e que arrepiaria os cabelos de qualquer inglês, impedido até mesmo de saber o nome de acusados pela imprensa, antes que o juiz tenha pronunciado a sentença.
A transmissão do caso Simpson, porém, extrapolou o direito do cidadão norte-americano. O júri sequestrado teoricamente não tem acesso ao noticiário sobre o caso, mas pode receber informações por baixo do pano durante as visitas conjugais a que tem direito. O teatro promovido pelos advogados via TV para influenciá-lo está dando o que falar nas escolas de direito e nos tribunais.
O culpado pelo circo em que se transformou o caso Simpson, com advogados dando uma coletiva de imprensa atrás da outra, é o bolha do juiz, Lance Ito. Ao mesmo tempo, sequestrou o júri e permitiu que as câmeras entrassem no tribunal.
Por essas e outras, em outro julgamento polêmico que sucedeu o de Simpson, o caso Susan Smith, a mãe que afogou os dois filhos, o juiz impediu, sem piscar, a entrada da TV no tribunal.

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