São Paulo, segunda-feira, 18 de setembro de 1995
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Alguns transpiram e outros respiram

MARCELO FROMER; NANDO REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Despido de qualquer camisa de clube ou preconceito, quem, assim como nós, de uma maneira ou de outra, não admira o incomparável Telê Santana?
Telê conquistou um espaço no coração do torcedor brasileiro por sua qualidade inquestionável e sua obstinação em querer fazer do futebol algo sério e atraente, coisas praticamente incompatíveis dentro do trágico cenário que é, hoje, o futebol no Brasil, neste pós-tetra inútil, que parece só ter catapultado de vez nosso amado esporte para um buraco negro, sem saída.
Loucura, caduquice, dirão alguns; não, outra vez o esforço para que todos participem mais ativamente do processo de evolução de um time, de um grupo.
Assim como deveria ocorrer com a direção de nosso futebol, onde pessoas mais habilitadas pudessem discutir com mais honestidade e precisão os rumos a serem tomados, para que não chegássemos a este ponto a que chegamos.
Não temos aqui dados concretos, mas parece que Telê Santana, na era da dança dos técnicos, vem estabelecendo um recorde de permanência, completando agora cinco anos no comando do São Paulo, e isso é, definitivamente, a prova de sua qualidade. Escorraçado depois das derrotas de 82 e 86, apelidado, então, de pé-frio, deu a volta por cima com muito trabalho e determinação. Essas duas derrotas circunstanciais em Copas do Mundo e a falta de compreensão da imprensa e de torcedores afoitos também contribuíram, de certa maneira, para o estado em que se encontra o nosso pobre futebol hoje. Ganhar, ganhar de qualquer jeito, a qualquer preço, deixando a qualidade em segundo plano: este tem sido o estúpido lema. Pensando curta e burramente, chegamos ao estado de calamidade. Telê é, ainda hoje, a figura heróica que tenta, a duras penas, não cortar o cordão com o passado, pelo simples fato de que se tem muito a aprender olhando para trás, mesmo que andando para frente. Não deve ser fácil para um técnico honesto e trabalhador assistir ao espetáculo triste que têm proporcionado dirigentes e federações no comando do futebol no Brasil, um país de que ele parece gostar um bocado, pois, se quisesse, já estaria a milhas daqui. Não lhe faltaram convites.
Primeiro, deixar clara nossa profunda admiração por Telê e, depois, dizer que uma coisa é transpirar, a outra é respirar futebol. Telê respira.

Cartas para esta coluna podem ser enviadas para o caderno de Esporte, al. Barão de Limeira, 425, 4º andar, São Paulo, SP, CEP 01290-900

Marcelo Fromer e Nando Reis são músicos e integrantes da banda Titãs

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