São Paulo, segunda-feira, 18 de setembro de 1995
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Daves filma sentimentos puros

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Não há sentimento em "Ao Despertar da Paixão" (Record, 13h45) que não seja puro.
É assim a amizade que o patrão (Ernest Borgnine) dedica a seu novo empregado (Jubal/Glenn Ford). É assim o amor que a mulher do patrão começa a nutrir por Jubal. É assim, até, o ódio que Jubal inspira a um outro empregado.
A seu modo, nem que seja o pior, cada personagem é íntegro: como se não devesse existir nenhuma dúvida sobre sua humanidade, ou sobre a humanidade em geral.
Daí, o essencial da intriga neste filme dizer respeito ao ciúme. As pessoas amam-se umas às outras em detrimento, sempre, de outras. E a dúvida que se instala torna-se, ela própria, o móvel da intriga: é como se fosse uma anomalia que se instala no humano.
Ora, este filme foi feito em plena era de anticomunismo nos EUA e parece nos dizer, retrospectivamente, que o problema não é ser comunista ou anticomunista nesta vida, e sim o sentimento de dúvida que pode se instalar em cada um.
Daves localiza o ciúme não como um sentimento de posse extremado (como, por exemplo, Claude Chabrol em seu recente "Ciúme") que deteriora o próprio amor. Ele o vê, antes, como uma entidade abstrata -que não se dirige a um ser em particular, mas existe em si e antes da existência de um objeto- que tolda um horizonte de perfeição.
"Ao Despertar da Paixão" é um filme sobre a pureza, que parece investir cada plano e animar cada personagem.

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