São Paulo, segunda-feira, 18 de setembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Papa disputa fiéis com a Universal na África do Sul

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Em sua primeira visita à África do Sul, o papa João Paulo 2º travou ontem uma acirrada disputa por fiéis com a Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo brasileiro Edir Macedo.
Cerca de 100 mil foram à missa do papa no parque Gosforth, em Johannesburgo (África do Sul), segundo estimativas da polícia. A poucos quilômetros, a Igreja Universal reunia cerca de 50 mil pessoas no estádio de Soweto (subúrbio ao sul de Johannesburgo).
As igrejas católicas africanas têm manifestado inquietação com relação ao sucesso de cultos como o da Igreja Universal no continente. Eles esperavam cerca de 400 mil fiéis para a missa papal.
Segundo Nollies Huysamen, capitão da polícia sul-africana, a vinda do papa era considerada um dos maiores eventos já vistos no país.
O Vaticano não soube explicar o motivo da frequência tão baixa à missa celebrada pelo papa. "Nós havíamos distribuído 333 mil ingressos", disse um porta-voz.
A data escolhida pela Igreja Universal para o evento no estádio de Soweto foi, segundo representantes, apenas coincidência.
"O papa não veio a Soweto, mas Jesus sim, e ele veio para salvar", disse no estádio de Soweto o bispo brasileiro Marcelo, que dirige o culto da Igreja Universal na África do Sul.
Dezenas de fiéis entraram em transe, momento do ritual da igreja no qual parecem sofrer uma espécie de convulsão.
Os pastores -a metade brasileiros- correram às grades do estádio para curar os doentes. "Que os enfermos ponham suas mãos onde sofrem, que vamos acabar com o mal", disse o bispo.
A Igreja Universal chegou à África do Sul há três anos. A maioria de seus fiéis no país é composta por negros.
Segundo um pastor de Durban, que não quis se identificar, os fiéis têm que entregar 10% dos salários à congregação, que "distribui o dinheiro a países pobres".
A cerimônia papal, a primeira realizada do país, também marcou a aprovação do Vaticano ao fim do apartheid -política de segregação racial- e a retomada da democracia no país.
O presidente sul-africano, Nelson Mandela, e seu antecessor, Frederik de Klerk, o último presidente a governar o país no regime do apartheid, sentaram-se lado a lado entre os convidados. A multidão recebeu o papa aos gritos de "João Paulo 2º, nós te amamos".
O papa terminou sua visita ao país com uma cerimônia na Catedral de Cristo em Johannesburgo.
Falando para um público composto por líderes católicos da região sul da África, ele pediu o fim do tráfico de armas e aos Estados africanos para investirem no bem-estar de seus povos.
O papa foi cercado no púlpito (espécie de palco onde são celebradas as missas) por 120 padres de diferentes regiões do continente, incluindo Moçambique, Angola e Botsuana.
"Há uma coisa afetando a África, que precisa ser observada com atenção: o comércio internacional de armas".
Ele apelou aos governos africanos para que enfatizem "a educação, saúde e bem-estar da população". João Paulo 2º também condenou a "longa e triste história de exploração na África".
"Hoje, essa situação continua sob novas formas, incluindo as condições injustas do mercado, os depósitos prejudiciais de lixo e a sobrecarga de dívidas impostas pelos programas de ajustes estruturais", disse João Paulo 2º, que segue hoje para o Quênia.

Texto Anterior: Furacão fere 26 mil e mata 40 no México
Próximo Texto: Culto em Manhattan atrai a polícia
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.