São Paulo, quarta-feira, 20 de setembro de 1995
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Oficiais da PM contestam secretário da Segurança

Coronéis do Rio criticam Nilton Cerqueira em reunião

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

O comando do secretário estadual da Segurança Pública do Rio, general Nilton Cerqueira, começa a ser questionado por oficiais da Polícia Militar.
Na última sexta, em reunião no quartel-general da PM (centro), Cerqueira recebeu críticas diretas de 60 coronéis e tenentes-coronéis -as mais altas patentes da corporação.
Contrariado, Cerqueira ouviu protestos à política de segurança que adotou ao assumir o cargo, há quatro meses.
Ao secretário também foram dirigidas queixas sobre os salários pagos a oficiais (tenente, capitão, major, tenente-coronel e coronel) e praças (sargentos, cabos e soldados).
Até os tenentes -posto oficial mais baixo da hierarquia da PM- contestam o secretário. Em ação inédita, cem tenentes fizeram uma passeata silenciosa pelo centro do Rio, anteontem à noite.
A intenção de Cerqueira era manter em sigilo os problemas entre ele e o oficialato. A manifestação dos tenentes expôs a questão.
A fim de não acirrar os ânimos, Cerqueira, 65, evitou atacar o protesto tenentista. Ele disse que teve "clima de respeito e cordialidade" a reunião entre os tenentes e o comandante da PM, coronel Dorasil Corval, ocorrida após a passeata. "Não houve agitação."
Cerqueira disse considerar "legítimas" as pretensões salariais dos oficiais, mas que o Estado não tem condições financeiras para atendê-las.
Um tenente ganha de R$ 600 a R$ 700. Os salários dos coronéis variam de R$ 2.000 a R$ 3.000. Os oficiais se queixam de que as gratificações por comando foram cortadas, reduzindo os vencimentos em até 50%.
Na sexta, falaram pelos oficiais os coronéis José Guilherme Springger Filho (chefe de gabinete da PM), Lenine de Freitas (comandante do 3º Batalhão) e Deolindo Rodrigues (diretor de Apoio Logístico).
Eles reclamaram que a política de policiamento ostensivo implantada por Cerqueira expõe oficiais e praças.
Recém-empossado no Clube dos Oficiais da PM, o tenente-coronel Ivan Bastos pediu audiência ao governador Marcello Alencar (PSDB) para reforçar as reclamações.
Segundo Bastos, sete oficiais e 121 praças morreram em serviço de 1º de janeiro até o dia 10 deste mês.
"Quando se trabalha com um mínimo de planejamento e seriedade, as mortes diminuem. Polícia eficiente não mata nem morre. Quanto mais gente morre, mais incompetente ela é. Segurança pública é ausência de confronto", disse Bastos, 50, professor de criminologia da Escola Superior da PM.

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