São Paulo, quarta-feira, 20 de setembro de 1995
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Melindre de Bráulios dobra ministro Jatene

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Por que é que esses enfezados desses Bráulios não vão protestar contra os papaizinhos deles? Não foram eles que batizaram esse bando de chatos com nome tão melodioso? Sinta o lirismo: "Bráu-li-o". Isso lá é nome?
Quantos Bráulios célebres você conhece, ó leitor de nome normal? Tudo bem, tem o Bráulio Pedroso. Mas, tirando ele, me indique um só Bráulio que tenha se destacado na literatura, nas artes ou na ciência. Não há. E quantos Bráulios ganharam o Prêmio Nobel, o Oscar ou, quiçá, a medalha olímpica? Nenhunzinho. Conclusão: o único Bráulio famoso é aquele cantado pelo Genival Lacerda.
Muito espertinhos os 34 Bráulios que ligaram para o Ministério da Saúde reclamando do uso do nome na campanha contra a Aids -e ameaçando processar o governo. O que eles pretendem? Arrancar um troco do bolso do contribuinte sem fazer o menor esforço?
Como é que alguém pode protestar por ver seu nome usado como sinônimo de um órgão tão nobre, tão beatificado, tão esteticamente perfeito e que tantas alegrias traz à humanidade desde o início dos tempos?
Claro, a falta de senso de humor dos Bráulios e o temperamento de freira de colégio que eles demonstraram ao longo desse triste episódio têm uma explicação óbvia: a maldição do politicamente correto.
Imagine se Chico Buarque tivesse composto a música da Geni nos tempos do politicamente correto? Teria de gastar em indenizações todo o dinheiro que ganhou na vida.
Eu mesma, uma bárbara "lato sensu", cansei de ouvir gozações por culpa de outra música do Chico, que dizia: "Cala a boca Bárbara". Mas nem por isso saí por aí dando uma de doméstica melindrada. Sabe aquele tipo de ajudante do lar que pede as contas no ato quando você diz que o bife está salgado demais? Pois os Bráulios indignados com a campanha do ministro Jatene são idênticos a essas más profissionais do lar.
Cabe aqui uma menção ao ministro Jatene. Na minha modestíssima opinião, alguém que cede tão prontamente ao espernear de um bando de Bráulios politicamente corretos inspira pouca, pouquíssima confiança.

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