São Paulo, quinta-feira, 21 de setembro de 1995 |
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Shirley Horn canta hoje e sábado em SP
WALTER DE SILVA
No cenário musical desde os anos 60, o canto dessa senhora sempre foi caracterizado por sua voz quase sussurrante, bastante sensual e sofisticada. A seguir, trechos da entrevista. Folha - Você possui um estilo de vocal muito suave, de canto lento e bastante compassado. Como surgiu esse jeito de cantar? Shirley Horn - Eu gosto de ter o meu próprio tempo, meu ritmo a respeito de tudo. Eu poderia dizer que eu tento entender as coisas como fotografias; o que eu vejo, o que você vê. Claramente, como meu ritmo. Minhas influências são as grandes cantoras, como Billie Holiday, Sarah Vaughan, Carmen McRae, Dinah Washington... Folha - Quem você destacaria do cenário musical? Shirley - Gosto muito de Barbra Streisand, Ella Fitzgerald, Lena Horne. E também Louis Armstrong. Recentemente, conheci uma cantora extraordinária, chamada Elis Regina. Folha - Você participou de um tributo a Tom Jobim no Free Jazz Festival aqui no Brasil em 93. Qual a sua opinião a respeito de suas músicas? Shirley - Quando ouvi as músicas de Tom Jobim, me apaixonei. Suas músicas assustadoramente lindas são simples melodias, calorosas. É como a água da montanha que lava você. Ele era um homem simples. E era muito sexy. Folha - Ainda no começo de sua carreira, nos anos 60, você apresentava-se com Miles Davis. Como foi essa experiência? Shirley - Comecei abrindo shows de Miles, mas nunca toquei com ele. A não ser quando gravamos em disco ("You Won't Forget Me", Verve, 1980), ele apareceu, tocou com a banda, fizemos uma jam session, e eu me diverti. Folha - Como é que você lidou com o fato de ser uma cantora de jazz e também pianista? Shirley - Cantar e tocar piano é como uma segunda natureza para mim. Eu tenho que tocar para mim mesma cantar. Folha - O que veio primeiro, o piano ou o canto? Shirley - Eu comecei a estudar piano primeiro, aos quatro anos de idade. E ainda estudo. Folha - Você já compôs algo no piano? Shirley - Escrevi muitas músicas que eu não toco. Eu posso dizer que tenho alguns sons na minha cabeça e no coração, um dia eu os gravarei. Folha - Qual é seu disco favorito, entre os que 14 que você gravou? Shirley - "Here's To Life". Este disco aconteceu numa ocasião especial em minha vida. Ao meu modo, acho que esse disco era uma celebração da vida. Folha - Qual seu critério para escolha dos standards que você interpreta? Shirley - São sempre músicas que estão na minha cabeça. Vou escutando as canções e acabo escolhendo as que ficam na cabeça. Folha - O que você preparou para os shows de São Paulo? Shirley - Acho que vou pinçar algumas coisas de cada um de meus álbuns, mas isso depende do público e do tipo de festa que estiver acontecendo. Folha - O que você acha do trabalho que os jovens músicos estão fazendo pelo jazz? Shirley - São poucos os que estão fazendo alguma coisa pelo jazz. Eles (os novos) realmente não têm aroma. O que acontece é que os gigantes estão desaparecendo. Quem sobrou? Folha - Mas você mencionaria alguns jovens músicos que estão fazendo agora um bom jazz? Shirley - Eu amo Branford Marsalis, Wynton. Toots Thielemans é um homem velho, mas ainda é um gigante, um dos poucos que sobraram. Roy Hardgrove tem feito muitas coisas. Ele é excelente, mas é apenas uma criança que ainda tem que crescer. Show: Shirley Horn e Marva Wright Quando: amanhã e sábado, às 21h30 Onde: Bourbon Street Music Club (rua dos Chanés, 127, Moema, zona sul, tel. 011/5561-1643) Preço: R$ 65 (setor A), R$ 45 (setor B) e R$ 25 (setor C), consumação mínima R$10 Texto Anterior: Ray Charles viaja com banda pelo Brasil Próximo Texto: Último disco foi gravado em casa Índice |
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