São Paulo, sábado, 23 de setembro de 1995
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Igrejas divergem sobre prática do exorcismo

KENNEDY ALENCAR
DA REPORTAGEM LOCAL

A Igreja Católica e a Igreja Universal do Reino de Deus demonstraram total divergência doutrinária no debate "Visões do Exorcismo", promovido pela Folha na última segunda-feira. Dois professores da USP (Universidade de São Paulo) classificaram o exorcismo como um fenômeno cultural criado pelo homem.
O exorcismo é uma cerimônia religiosa na qual se expulsa o demônio ou os espíritos maus de uma pessoa através de uma oração.
Na Igreja Católica, está em desuso. Na Igreja Universal, constitui um dos pontos fundamentais de seus cultos.
O padre Fernando Altemeyer Jr., da Arquidiocese de São Paulo, afirmou que o exorcismo entre os católicos só pode ser praticado por sacerdotes com licença específica de um bispo. "Sem dar tapa em ninguém, como alguns exorcistas em outras igrejas fazem, o que é um desrespeito à pessoa", disse.
O pastor Ronaldo Didini, da Igreja Universal, declarou que "não se expulsa um demônio pedindo favor". Segundo ele, não há violência nos exorcismos de sua igreja, mas "contato físico" para impedir que o "possuído" machuque alguém ou a si mesmo.
O psicólogo Luís Cláudio Figueiredo, professor da USP, disse que "o homem é um animal doente e desadaptado quando comparado a outras espécies". Segundo ele, o exorcismo é uma construção humana que permite criar apoios sem os quais "não temos como nos defender".
A antropóloga da USP Maria Lúcia Montes disse que o exorcismo se encaixa num "sistema de crenças e práticas que tentam restaurar o sentido para a vida humana e o mundo".
Altemeyer condenou "o teatro e o comércio" com que algumas igrejas evangélicas tratariam o tema. "O exorcismo não é um bem que deve ser ressarcido pelo dízimo, é um bem gratuito".
Didini disse que "o dízimo está na Bíblia". Segundo ele, sua igreja não depende de dinheiro do governo "como algumas universidades católicas".
O debate teve a mediação do jornalista da Folha João Batista Natali.

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