São Paulo, sábado, 23 de setembro de 1995
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"Beldades" faz colagem demolidora

MÔNICA RODRIGUES COSTA
EDITORA DA FOLHINHA

"As Beldades de 95" provoca gargalhadas com uma colagem antropofágica -devoradora e demolidora a um só tempo- de MPB, cinema e temas vistos na TV, combinados no teatro de variedades. Parodia cantores, canções que pertencem à memória musical coletiva e acontecimentos.
A direção é de Patrícia Gaspar (atuou em "Almanaque Brasil"). Tereza Moranduzzo e Silvio Piesco assinam a direção musical.
O espetáculo mistura o gênero da revista com a comédia musical. A fórmula consiste em um ou mais atores interpretarem uma canção, saírem de cena para trocar o figurino enquanto um animador entretém a platéia.
"As Beldades de 95" vira comédia ao interferir em cada tijolo dessa construção -e aí está a inteligência e a graça da montagem.
O nome do grupo já contém a ironia maior. Trata-se da Companhia Reduzida de Variedades, com três atores. A orquestra é uma vitrola de plástico. O corpo de baile são três dançarinos.
"As Beldades de 95" atravessa o Pantanal com Eduardo Dusek e Carlos Góes, salta para Jorge Benjor e sobram marchas de Carnaval.
O primeiro quadro traz "Fonte da Juventude", de Rita Lee. Rachel Ripani, Paulo Ivo e Maurício Guilherme fazem travestis que cantam bem, e é possível observar suas roupas por baixo da lingerie. Esse é um detalhe marcante. Dá o toque de ironia, que tem como característica o deixar-se ver duplamente, de forma sutil.
Os solos de Ripani como a dançarina turca Zobaida Ralachana e a cantora Adalgisa Tupinambá, que interpreta "Baboseiras", de Lamartine Babo (anos 30), seguem num crescendo que levam as personagens à perda do controle. Um desfecho esperado, mas nem por isso menos engraçado.
No clássico do português, o cantor (Paulo Ivo) treme o bigode e dedica a música a Dorival Caymmi, João Gilberto e Amália Rodrigues. Maurício Guilherme, no papel do eterno Barrosão, devora Ari Barroso cantando "Folha Morta", dos anos 40.
Guilherme é também autor do roteiro. Foi diretor-assistente de "Kean" e "Almanaque Brasil".
O quadro "Os Calangos Apocalípticos" é uma alusão ao grupo de roqueiros nordestinos Raimundos e funde repente e baião com músicas de Gordurinha, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira.
Para parodiar a febre dos cultos religiosos, "anjos" da igreja das Trombetas de Gedai interpretam "Guita", de Raul Seixas, e sambam com uma marcha de Carnaval de Chocolate da Bahia.
Às vezes, uma movimentação cênica ou uma voz em falsete provoca risos. Outras vezes, aparecem em primeiro plano cenário ou figurino (Marcos Botassi), com carrinhos e anjinhos de plástico, palmeiras, retratos e santinhos colados nas roupas e cortinas.

Peça: As Beldades de 95
Direção: Patrícia Gaspar
Elenco: Rachel Ripani, Paulo Ivo e Maurício Guilherme
Onde: Teatro Ruth Escobar (r. dos Ingleses, 209, tel. 251-4881)
Quando: De quinta a sábado, às 21h; domingo, às 20h
Quanto: R$ 18,00

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