São Paulo, sábado, 23 de setembro de 1995 |
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Staatskapelle é melhor do que o maestro
JOÃO BATISTA NATALI
O maestro Daniel Barenboim, 53, aparentou anteontem ser proprietário de propósitos modestos. Na primeira das duas récitas com que se apresentou à frente da Staatskapelle de Berlim, na temporada do Cultura Artística, sua interpretação da "Sinfonia nº 4" foi no máximo sofrível. Com a "Sinfonia nº 3", o desempenho só cresceu em estatura porque ele deixou mais solto esse grupo de músicos especializado no repertório do século 19. Vejamos o que ocorreu com a primeira peça inscrita no programa. Para Barenboim, os onze excelentes instrumentistas de sopro deveriam ser relegados, no primeiro movimento, ao mero papel de acompanhantes da complexidade melódica executada pelas cordas. Ou seja, puxou violinos, violas, violoncelos e baixos para um sistemático "fortíssimo" que cobria a audição das madeiras e metais. Só permitiu que eles emergissem com alguma força sonora no terceiro movimento, o "Allegro Vivace", quando não havia outra alternativa deixada pela partitura. É exatamente o contrário do que ocorre em execuções exemplares e não necessariamente inovadoras, como a de Evgeny Mravinsky e a orquestra de Leningrado. Barenboim possui no mercado a reputação de acrescentar pouco de seu próprio pensamento às excelentes formações de que se torna titular, como é o seu atual estatuto junto à Sinfônica de Chicago. No caso da Staatskapelle de Berlim, com suas belas cordas e absolutamente incríveis sopros, ele sucede a um grupo de maestros da ex-Alemanha Oriental que buscou aprofundar uma cultura fundamentada no consenso. Ou seja, nada de ousadias. A "Heróica", na apresentação de anteontem, enveredou por essa linha, mas com tanta firmeza nos acordes e elegância dramática no fraseado que os músicos, de certo modo, demonstravam ser melhores do que quem os dirigia. Texto Anterior: CD traz gravação generosa de Messiaen Próximo Texto: "Beldades" faz colagem demolidora Índice |
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