São Paulo, sábado, 23 de setembro de 1995
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Piadobrás

FERNANDO RODRIGUES

SÃO PAULO - Qual agência leva mais vantagem na hora de conquistar um contrato de publicidade de R$ 43,9 milhões da Petrobrás: a que garante, por escrito, o cumprimento dos prazos estipulados ou aquela que dispõe de duas ou mais linhas telefônicas?
Para a Petrobrás, não faz diferença. Na hora de julgar as propostas, a estatal dará três pontos para a empresa que garantir o cumprimento de prazos. A que tiver duas ou mais linhas telefônicas receberá a mesma pontuação.
"Isso é uma piada", diz o publicitário Mauro Salles. A piada faz parte de editais de licitação divulgados no início deste mês pela Petrobrás e pela Petrobrás Distribuidora.
Considerado uma pérola no meio publicitário, o documento pode ser retirado com a estatal pelo preço de R$ 100 a unidade. Trata-se de um daqueles casos em que algum funcionário resolveu seguir a lei à risca. E se deu mal.
A lei diz que devem ser utilizados critérios objetivos para julgar uma empresa que aspire fazer serviços para o governo. Por isso, o bem-intencionado burocrata não teve dúvidas. Fez uma lista de requisitos e deu nota para tudo.
Por exemplo, dois ou mais aparelhos de fax garantem três pontos à agência. Ter cinco ou mais micros "'PCs 486 ou similar" rendem mais três pontos. Ter um CD-ROM vale dois pontos. Software gráfico só dá um ponto. E assim vai.
Se for cuidadoso, o dono de uma agência de publicidade pode conquistar 14 pontos só com seus equipamentos.
Com os pontos obtidos com telefones, aparelhos de fax e computadores, o publicitário pode relaxar um pouco na hora de redigir a "idéia criativa (...) onde será demonstrada a síntese da estratégia de comunicação publicitária". É que a Petrobrás dá apenas 30 pontos para esse quesito.
Cômica ou trágica, a licitação para a maior estatal brasileira -e uma das maiores do mundo- está na praça. Agências correm para apresentar as propostas até os dias 23 e 24 de outubro.
Esse não é o único caso de licitação esquisita. Publicitários indagaram ontem ao secretário de Comunicação de FHC, Sérgio Amaral, se há chances de alguma concorrência em curso ser cancelada. "Podem haver ajustes", disse Amaral. Só ajustes.

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