São Paulo, domingo, 24 de setembro de 1995
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MST hoje mantém até fábricas e escolas

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dez anos depois de sua fundação, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) não só decidiu "urbanizar" o discurso em defesa da reforma agrária como atualmente funciona "profissionalizado". Tem até uma indústria de calças jeans em Dionísio Cerqueira, em Santa Catarina.
A fábrica funciona há dois anos na cooperativa formada no assentamento Conquista da Fronteira, administrado por trabalhadores ligados ao MST. A indústria produz cerca de 1.200 peças por mês.
"Faz parte da nossa proposta levar a agroindústria ao campo", afirma Neuri Rossetto, 34, assessor de comunicação da entidade. O MST defende o cooperativismo.
No Paraná, trabalhadores rurais ligados ao MST mantêm uma das maiores ervateiras do país, em Santa Maria do Oeste. No Rio Grande de Sul, em Sarandi, camponeses do MST beneficiam 30 mil litros de leite por dia.
Apesar das ações radicais que realizou desde o congresso de criação em 1985, o MST agora busca ganhar simpatia da opinião pública por meio de entidades urbanas.
Por isso, o lema mais forte "Ocupar, resistir, produzir" dos anos 80 virou agora "Ocupar, resistir, produzir; a reforma agrária é uma luta de todos".
"A questão da resistência era mais enfatizada antes", reconhece Felício Procópio, 28, o Mineirinho, da coordenação estadual paulista. Rossetto resume o assunto: "Nos consideramos radicais, mas não violentos. Para esses grupos menores, sim, a violência é um diferencial". Em função das ocupações promovidas por radicais, o MST tem acelerado as ocupações.
Com 5.200 militantes, muitos deles formados no Centro de Pesquisas e Tecnologia Alternativa do Contestado, em Caçador (SC), o MST é quase uma instituição, presente em 21 Estados e em Brasília.
O MST movimenta milhões de reais. Na prática, até financiamentos federais repassados a assentamentos do MST são usados para manter o movimento. O motivo: 1% da produção dos assentamentos reverte para o MST. "Ninguém é obrigado, mas os trabalhadores repassam", diz Mineirinho. Há no país 1.123 assentamentos.
As relações com o governo estão mais próximas hoje do que no passado. Em Veranópolis (RS), o MST mantém escola de técnicas cooperativistas em convênio com o Ministério da Educação.
(GA)

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