São Paulo, domingo, 24 de setembro de 1995
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Aumentam resistências a Malan dentro do governo

JOSIAS DE SOUZA; VALDO CRUZ

Proximidade das eleições municipais eleva tom de críticas à política de juros
JOSIAS DE SOUZA
Diretor-executivo da Sucursal de Brasília
VALDO CRUZ
Secretário de Redação da Sucursal de Brasília
A manifestação de apoio do presidente Fernando Henrique Cardoso, há uma semana, não foi suficiente para eliminar o cerco de oposição ao ministro Pedro Malan (Fazenda) dentro do próprio governo. Ao contrário, o movimento cresceu.
As resistências a Malan limitavam-se à Esplanada dos Ministérios. Ele vinha sendo fustigado pelos colegas José Serra (Planejamento), Clóvis Carvalho (Gabinete Civil) e Sérgio Motta (Comunicações), este último temporariamente fora de combate.
Agora, a trama anti-Malan espraia-se pelo Congresso. A proximidade da campanha eleitoral nos municípios provocou uma elevação no tom das críticas à política de juros altos.
Parte dos parlamentares governistas acha que a estratégia monetária, considerada recessiva, servirá de munição para os adversários.
Condutor de uma estratégia de crescimento do seu PSDB, Sérgio Motta costuma dizer que Malan precisa ser mais agressivo. Se sua política está correta, precisa oferecer argumentos que inibam o discurso segundo o qual o país está mergulhando numa recessão. Motta acha que a versão, difundida pelo empresariado, ganha corpo.
Sob reserva, Malan acusa o golpe. Em diálogo com seus auxiliares, disse que está havendo uma "eleitorização da economia". Mantém a disposição de resistir. Chega mesmo a atacar: afirma que a ambição dos políticos é incompatível com a austeridade econômica.
O Palácio do Planalto contribui para a impressão de fragilidade política do ministro da Fazenda. Por determinação de Fernando Henrique, Clóvis Carvalho, ministro-chefe do Gabinete Civil, assumiu a coordenação das negociações para a rolagem das dívidas dos Estados. Normalmente, a tarefa caberia a Malan e sua equipe.
Diz-se oficialmente que Fazenda e Gabinete Civil trabalham em conjunto. Mas, na verdade, a equipe de Malan receia que a participação de Clóvis Carvalho termine por politizar em demasia uma questão considerada técnica.
José Serra, outro opositor de Malan no governo, ataca a sobrevalorização do câmbio. Junto com os juros altos, a taxa de câmbio compõe o alicerce da atual política monetária do governo. O ministro do Planejamento sustenta que o real deveria sofrer uma maior desvalorização frente ao dólar.
Sempre nos bastidores, a equipe de Malan, incluindo o presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, interpreta a posição de Serra com uma dose de ironia. Afirmam que o ministro do Planejamento está preocupado com o câmbio porque tem muitos amigos entre os exportadores.
As empresas do setor de exportação são as maiores prejudicadas com a atual política cambial do governo. A valorização do real frente ao dólar inibe as vendas de produtos brasileiros no exterior. É um estímulo à importação.
Serra, também em tom irônico, costuma referir-se a Malan como "ministro do PFL". Embora também insatisfeita com o atual nível das taxas de juros, a cúpula do PFL, de fato, pende para o lado de Malan.
O partido do senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) teme que, numa queda-de-braço da dupla econômica, Serra acabe sendo guindado ao posto de Malan, assumindo o controle da economia.
Na atmosfera carregada de Brasília, os políticos apegam-se aos menores detalhes. Os líderes pefelistas estranharam, por exemplo, a desenvoltura com que Serra assumiu a articulação em favor da emenda que prorroga o FSE (Fundo Social de Emergência) por mais quatro anos.
Lembram que, durante a gestão de Itamar Franco, era Fernando Henrique Cardoso, então ministro da Fazenda, que se responsabilizava por tarefas do gênero. Foi graças à sua intensa movimentação que o FSE foi aprovado, em sua primeira versão.
Malan desdenha de seus detratores. Diz que está ligado ao presidente não apenas por razões funcionais, mas por laços de amizade.
Ele acredita, de resto, que os últimos sinais da economia pesam a seu favor. Sua assessoria menciona a queda da inflação e a redução da inadimplência. Fala também que as vendas no comércio pararam de cair. Melhor: tendem a crescer, graças ao Dia das Crianças e ao Natal.

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