São Paulo, domingo, 24 de setembro de 1995
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Bráulio perde nome mas quer mostrar a cara

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

A participação do ator Leonardo Serrano na campanha anti-Aids do Ministério da Saúde poderia render um filme de humor -intitulado "Esqueceram de Mim".
Serrano interpreta a voz do pênis falante sem nome, originalmente chamado Bráulio, nos polêmicos comerciais para a televisão da campanha do governo -mas quase ninguém sabe disso.
"Nem os meus próprios amigos sabem. É curioso, está todo mundo comentando a campanha e ninguém sabe que fui eu que fiz o Bráulio", lamenta ele.
Diferentemente de locutores e dubladores, que emprestam a voz sem se preocupar em mostrar a cara, Serrano é um ator. "E, como todo ator, quero ser conhecido pela minha imagem", diz.
A voz do ator "faz escada", como se diz no teatro, para a interpretação de Emílio de Mello, que "conversa" com seu pênis nos anúncios criados para a campanha.
A fala preferida de Serrano ocorre no filme em que Mello entra no banheiro e Bráulio diz, quase cantando: "Todo mundo nu, oba! Todo mundo nu, oba! Olha o breque! Subindo!".
Serrano foi selecionado entre três dezenas de dubladores, locutores e atores que batalharam pelo trabalho. Diz que ganhou "um bom cachê" para dois dias de trabalho, mas não revela quanto.
No primeiro teste, fez quatro vozes diferentes. Na segunda seleção, ofereceu a João Salles, o diretor dos comerciais, 12 opções de vozes para o Bráulio.
"O diretor queria que o Bráulio tivesse a voz de um lorde inglês, enchendo a boca. Eu preferia uma voz mais engraçada. O Ministério da Saúde pediu uma voz mais careta, mais simples, que qualquer um entendesse", conta.
Com algum constrangimento, a voz do Bráulio confessa que raramente usa camisinha em suas relações sexuais. "Estou namorando uma menina há três meses e não uso com ela. Também não usava com uma namorada de cinco anos. Mas acho fundamental usar nas relações sem compromisso", diz.
Serrano está desde dezembro de 94 em cartaz no musical "Na Era do Rádio", dirigido por Sérgio Britto, no Rio.
Nesse espetáculo com 17 atores e 3 músicos, que conta a história do rádio no Brasil entre os anos 20 e 50, Serrano vive 15 personagens.
Os seus preferidos são o cantor Cauby Peixoto, o apresentador Chacrinha e "seu Romário, o homem-dicionário", um sujeito que fez fama respondendo perguntas em programas de auditório.
O ator conta em seu currículo participações nas montagens de "Turandot", dirigida por Aderbal Freire Filho, em 1993, e "O Cortiço", por Sérgio Britto, em 94. Também fez uma ponta na novela "Barriga de Aluguel".
Serrano é carioca e tem 34 anos. Começou sua carreira quando já tinha 26. "Estudei e me formei em economia, por influência da minha família. Não era o que eu queria."
Seu maior sonho, hoje, é fazer uma minissérie na TV. "Seria demais", diz.
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sobre a campanha anti-Aids à pág.3

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