São Paulo, domingo, 24 de setembro de 1995
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'Dá pra dar uma relaxada'

DA AGÊNCIA FOLHA, EM ARAME E GRAJAÚ (MA)

Dono de uma casa comercial em Grajaú, S., 30, sobe todo dia o Morro Branco (aldeia de 49 hectares no centro da cidade) para intermediar a venda de maconha dos guajajaras para não-índios.
"Aqui, 70% da população é 'diambeiro' (traficante)", diz. "Diamba" é um dos nomes da droga no Estado. Na língua tupi dos guajajaras, chama-se "petemarrê".
A seguir, trechos da conversa de S. com índios e a repórter da Agência Folha no Morro Branco. A repórter não se identificou como jornalista e se fez passar por possível compradora.

S. - Tem negócio aí? Lata?
Índio - Eu arrumo uma lata (de leite em pó, cheia de maconha). Quanto vocês pagam? R$ 50?
Repórter - Caro...
Índio - Mas dá pra dar uma boa relaxada...
Repórter - Tem quanto na lata?
Índio - Dá 400 g.
Repórter - Quando é a safra da maconha?
Índio - Em abril, começamos a plantar em fevereiro.
Repórter - Você vem aqui todos os dias?
S. - Todos os dias. Quando eu falto, eles estranham.
Índio - Estão pedindo R$ 100 por quilo lá em Arame...
Repórter - Quem?
Índio - O dono do fumo.
Repórter - É branco?
Índio - Branco, ele é cearense. Tem 70 kg lá em Arame. Tô com plano de ir lá.
Repórter - Mas é tudo de índio?
Índio - Tudo do índio. Ele comprou e fez estocagem. Tem sete sacos. Meu fumo acabou anteontem.
S. - Eu posso levar (a maconha) para São Luís. A gente faz um código por telefone. Ligo e digo "estou levando cinco livros", que é 5 kg. Entrego pessoalmente.
Repórter - Vale a pena?
S. - Pra mim vale. Tem que combinar uma quantidade mínima, 10 kg. Me pagando 'uma quina' (R$ 500) por quilo, eu levo. Lá se vende por R$ 1.000.
Repórter - Tem como garantir isso todo mês?
S. - Para 10 kg tem.
Repórter - E em Arame, todas as aldeias vendem?
S. - Todas. Todas as casas na beira da estrada vendem.

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