São Paulo, domingo, 24 de setembro de 1995
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Ajuste precário

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

Visto em seus números macroeconômicos, o Plano Real vem apresentando resultados positivos e alguns surpreendentes, como é o caso da inflação.
Ao ser lançado, duvidava-se que o controle dos preços fosse durar tanto. Pesava a memória dos planos anteriores.
Nem mesmo o Collor 1, com toda a brutalidade do confisco da poupança, teve êxito.
Há consenso de que a razão do sucesso do Real está na força da âncora cambial e na abertura da economia, que, finalmente, vive para valer a saudada concorrência, com vantagens para o consumidor.
Nesta fase mais recente, marcada pelos calotes, pesaram, de fato, o forte aperto no crédito e os atropelos do setor agrícola, cujos preços não só pararam de subir, como caíram.
Mas há, também, os efeitos da reestruturação dos mercados. As empresas estão sendo mais exigidas. Aprofunda-se o processo inaugurado não no Real, mas antes, com Collor.
Para que a estabilização se consolide, entretanto, exige-se muito mais, principalmente do setor público, e neste ponto há mais dúvidas do que certezas.
Por detrás da discussão sobre os juros altos, percebe-se a dimensão do impasse que pode jogar por terra todo o ganho inicial do Real.
Desde o final de 93, quando montou-se a engenharia da URV, sabia-se que a inflação viria abaixo abruptamente, mas por algum tempo os juros teriam papel relevante.
Levar gradualmente os juros a patamares mais civilizados exigiria um pesado ajuste fiscal. A contenção das despesas governamentais em todos os níveis -não só federal- e a privatização fazem parte da estratégia do plano.
O que se vê nesse ponto não é animador. No Congresso e no próprio governo, notam-se resistências crescentes ao ajuste do setor público. Todo mundo esbraveja contra o juro alto, mas ninguém quer ceder quando se defronta com propostas que abririam caminho para a consolidação do Real. Nem governadores, nem prefeitos, nem burocratas, nem sindicalistas.
A reforma da Previdência teve seu debate cercado de desinformação e perdeu ritmo. Sem ela, não há administrador que dê jeito nas contas públicas.
O final do Ano Velho está aí e o Ano Novo será eleitoral. O Real que se cuide.

Hoje, excepcionalmente, LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS não escreve nesta coluna.

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